Estudos sobre a caracterização morfológica dos propágulos de espécies florestais e tecnologia das sementes é ferramenta básica para recuperar ou restaurar áreas degradadas
“A semente é o principal meio de propagação das espécies e base da regeneração natural da floresta”. Assim afirma a pesquisadora Maria da Glória G. de Melo, que coordena o Laboratório de Sementes e Viveiros Florestais da EST/UEA, onde se desenvolvem trabalhos sobre caracterização morfológica de propágulos das espécies que ocorrem na Base de Operações Geólogo Pedro de Moura (BOGPM,) em Urucu, a fim de compreender a dinâmica da floresta e contribuir com o reflorestamento de áreas degradadas.
As pesquisas desenvolvidas no laboratório vinculado à Rede CTPetro Amazônia, por meio do Projeto PT 2 – Tecnologia de regeneração artificial em clareiras abertas pela exploração e transporte de petróleo e gás natural – coordenado pelo Dr. Gil Vieira, possibilitam a identificação correta das espécies. Essas informações ajudam tanto no reflorestamento com espécies da região quanto nos inventários florestais, tendo em vista que, o uso de diversos nomes populares para uma mesma espécie ocasiona problemas na hora de tomar decisões de como trabalhar a floresta.
“A identificação correta das plântulas no campo é uma dificuldade encontrada pelos parabotânicos (antigo mateiro), porque nem sempre as características morfológicas do indivíduo adulto são similares às do indivíduo jovem. Para se reflorestar uma área degradada precisamos, por exemplo, de espécies pioneiras resistentes à alta luminosidade e que se adaptem às condições adversas de campo”.
Além disso, essa caracterização morfológica dará suporte aos pesquisadores para trabalharem na Amazônia com espécies locais e não exóticas, pois essas últimas, apesar de se adaptarem às condições locais, não são representativas da área. De acordo com a pesquisadora, “conhecer as fases de germinação e do desenvolvimento da plântula contribuirá para o entendimento da biologia das espécies, manejo, conservação e recuperação das áreas degradadas com espécies que já ocorrem na BOGPM”.
Sementes
Com os estudos realizados no laboratório e no viveiro é possível identificar quantos dias a semente leva para chegar à fase de plântula, qual o tempo necessário para ser repicada para uma embalagem a fim de se produzir uma muda e quanto tempo pode permanecer no viveiro antes de ser levada ao campo.
Dentre as várias informações obtidas com os estudos de morfologia e tecnologia de sementes, uma é de essencial importância: quais sementes são ortodoxas e quais são recalcitrantes. O desenvolvimento das pesquisas mostra que as primeiras podem ser mantidas em bancos de germoplasma para posterior uso; já as recalcitrantes – muitas das que ocorrem na BOGPM – não resistem ao dessecamento e, assim, não podem ser armazenadas, pois precisam imediatamente ser semeadas para a produção de mudas, caso contrário perderão sua viabilidade.
“Essas informações tecnológicas sobre dados físicos, como o teor de água das sementes são importantes para saber o comportamento das sementes no armazenamento. As espécies recalcitrantes devem ser logo semeadas para a produção de mudas que serão utilizadas no campo e reflorestadas”, afirma Maria da Glória.
Para se realizar a coleta, o primeiro passo consiste em marcar a árvore e observar a matriz com o intuito de verificar se a mesma possui boas características genéticas. As árvores selecionadas são georreferenciadas por GPS (Sistema de Posicionamento Global), anota-se o DAP (Diâmentro à Altura do Peito), faz-se a medição e coleta-se a amostra botânica. Vale ressaltar, que todo material botânico precisa ser fértil, isto é, ter flor ou fruto para ser identificado de forma correta no herbário do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e incorporadas ao acervo do Herbário da EST/UEA.
Livro
Conforme a pesquisadora, as pesquisas desenvolvidas irão resultar em um livro que compilará todos os trabalhos de morfologia, à priori, apenas em português.
“Vamos reunir essas informações, pois é importante registrar os resultados dos estudos que serão organizados e divulgados tanto em forma de artigos científicos como em um livro técnico e ilustrado para o público-alvo, estudantes de engenharia florestal e pesquisadores que já trabalham com sementes de espécies florestais”, completa Maria da Glória.
Recentemente, a coordenadora do grupo e as pesquisadoras Ângela Maria da Silva Mendes e Sheylla Fontes Pinto expuseram no “60 Congresso Nacional de Botânica”, ocorrido em Feira de Santana, Bahia, cinco trabalhos científicos que farão parte do livro intitulados: “Morfologia de sementes e plântulas de Protium hebetatum Daly. (Burseraceae)”; “Aspectos morfológicos de Pouteria laevigata (Mart.) Raldk: Frutos, sementes e desenvolvimento de plântula”; “Aspectos Morfológicos de frutos, sementes e plântulas de Glycydendron amazonicum Ducke”; e “Caracterização Morfológica de frutos, sementes e plântulas de Copaifera guyanensis Desf. (Legumimosae-Caesalpinioidea).
* Informações da Rede CTPETRO Amazônia, Inpa, publicadas peloEcoDebate, 28/08/2009