quarta-feira, 27 de abril de 2011

Do jornal O eco - Texto de Marc Dourojeani - importância econômica das florestas secundárias



Professor e decano da Faculdade Florestal da Universidade Nacional Agrária de Lima, Peru e Diretor Geral Florestal desse país. Atualmente é Presidente da Fundação ProNaturaleza.
Era o ano 1978. Um grupo internacional de expertos florestais percorria a área de Curuá-Una, no Estado do Pará, um experimento de plantações florestais estabelecido em fins dos anos 1950s com apoio da Organizaçao das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO). O objetivo era recolher experiências úteis para o manejo da Floresta Nacional do Tapajós. O calor era intenso e as parcelas eram muitas e grandes e, pior, os resultados eram frustrantes. Parcelas plantadas com mogno só mostravam árvores retorcidas e sem valor, em consequência de ataques de insetos; outras parcelas, a maior parte, mostravam volumes de madeira reduzidos demostrando que o manejo lá aplicado não era economicamente viável. Até que, quando a esperança já era pouca, a equipe ficou pasma: viu uma parcela de árvores gigantes, de troncos retos e sem ramificações, com volumes de madeira excepcionais. O mateiro ajudou os expertos a reconhecer as árvores. Lá havia diversas espécies, muitas delas de grande demanda no mercado. Os cálculos rápidos indicaram mais de 400m3 por hectare. Uma maravilha! A solução ideal! E qual teria sido o excelente tratamento silvicultural que dera resultados tão espectaculares? Após um breve momento de espectativa veio a resposta contundente: era a parcela testemunho! Ou seja, a parcela onde nada foi feito, onde nada foi plantado e nada foi mexido. Só se deixou que a natureza fizesse o seu trabalho. Essa parcela tinha-se convertido num ótimo bosque secundário natural.

Como é bem conhecido, grande parte da Amazônia que foi desmatada é deixada sem uso a cada ano, cumprindo rotações ou períodos de “descanso” de duração variável. Isso acontece por duas razões principais: (i) diversas formas de perda aparente ou real da fertilidade e, (ii) a dificuldade de combater as ervas daninhas. Por isso, camponeses pobres, igual que índios, praticam a agricultura migratória ou shifting cultivation. A diferença entre ambos é que os camponeses são muito numerosos e que as áreas que deixam sem cultivar ou pastorear são imensas, estimadas em cerca de cinco vezes a área efetivamente cultivada a cada ano, ou seja milhões e milhões de hectares da Amazônia. Essas são as “capoeiras” ou vegetação com floresta secundária que agora dominam a maior parte das paisagens amazônicas. Após terminado o descanso esses bosques novos são cortados e queimados para iniciar um novo ciclo.

Em termos ecológicos, uma “capoeira” não é improdutiva, pois ela fixa carbono, restaura a fertilidade natural do solo, favorece a presença de alguns animais aproveitados na alimentação humana, protege o solo contra a erosão e, se deixada por longo prazo, restaura uma floresta parecida com a que existia antes de sua eliminação para atividades agropecuárias. Mas, em termos econômicos pode ser considerada como terra abandonada ou subutilizada, pois não produz renda para seus donos ou usários. Ademais, sua necessidade se correlaciona com a destruição de mais florestas naturais ou originais já que por hectare abandonado a cada ano se corta outros de mata nativa. É propícia a ocasião para notar que mesmo que não se goste da soja e de outras culturas industriais intensivas altamente mecanizadas e tecnificadas, deve se reconhecer que elas desperdiçam menos recurso de terra e de floresta que as formas tradicionais de agricultura e pecuária. Apenas ocorre que esse tipo de agricultura deveria respeitar límites técnicos e legais, o que não acontece.

Agora bem. Faz muitas décadas que resultou evidente a qualquer um que conhece a Amazônia, até para os que nunca visitaram Curuá-Una, que as “capoeiras” poderiam ser manejadas ou conduzidas para produzir madeira e outros produtos entre cada período de uso agrícola. Muitas das espécies de árvores que crescem nas capoeiras têm madeira com valor comercial ou poderiam ter, se seu uso fosse promovido. O volume de madeira produzido é variável com a qualidade do solo e com a distância em que se encontram as árvores mães, que providenciam as sementes para que o vento ou a chuva ou os pássaros e morcegos as espraiam. Mas, em termos gerais pode se obter até 40 m3 de madeira em 7 a 10 anos e mais de 200 m3 antes de cumprir 20 anos. Existem capoeiras muito ricas em espécies, com mercado já conhecido e outras onde a diversidade é maior. Estudos recentes na Amazônia do Peru, financiados pela Organizaçao Internacional da Madeira Tropical (OIMT) confirmam que a rentabilidade econômica dessas florestas secundárias é elevada, providenciando uma renda anual muito superior, quase o dobro de qualquer outra atividade agrícola ou pecuária, tradicionalmente desenvolvidas nessas condições.

O manejo de florestas secundárias é, provavelmente, melhor que o reflorestamento para condições de trópico úmido. Seu custo é muito baixo porque, na verdade, não há que fazer nenhum investimento. Não precisa de viveiros ou de se produzir plântulas, nem de plantá-las ou cuidá-las contra pragas e ervas daninhas, nem de fertilização. Pode se praticar em parcelas de um a várioss hectares, apenas na base de uma propriedade familiar cujos indivíduos ao mesmo tempo podem seguir atendendo seus cultivos e animais na fração que cultivam a cada ano. O manejo é elementar, apontando apenas para favorecer as espécies mais comerciais e os melhores indivíduos. O retorno econômico, como dito, é muito elevado, mais que o da maior parte dos cultivos e, em solos bons ou dependendo das espécies, pode ser muito rápido. O aproveitamento florestal das capoeiras está integrado ao ciclo agrícola e, portanto, é benefício seguro, tirando proveito da terra que de outro modo ficaria ociosa. Também, como falado, essa opção brinda serviços ambientais. Os agricultores que desejem ganhar mais dinheiro podem, claro, combinar essa técnica com certo nível de reflorestamento com espécies muito valiosas como cedro ou mogno ou outras. Basta para isso que usem a técnica de enriquecimento das capoeiras.

Até uns dez anos atrás, pouca gente se interessava realmente pela madeira das capoeiras porque, na aparência, existia muita madeira disponivel na mata original como para “dar bola” às madeiras “menos nobres” e de dimensões menores das capoeiras. Mas, a crescente escassez de madeira devido ao desmatamento sem controle e à exploração anárquica da floresta está favorecendo o aumento do valor de muitas espécies de rápido crescimento, ou seja, de florestas secundárias, que antes eram depreciadas. Em países onde o desmatamento tem avançado muito, como no Peru, são numerosas as espécies de árvores secundárias que hoje têm grande demanda e, a cada dia, o mercado aceita novas madeiras. Há até uma indústria florescente de construção de casas populares exclusivamente na base de uma espécie típicamente secundária. Dessa forma, o que na verdade sempre pode ser um bom negócio, hoje é um negócio evidente, já está começando a florescer, embora com dificuldades criadas essencialmente pela burocracia.

Resulta que o Inrena, o equivalente ao Ibama do Peru, ao invés de facilitar o manejo das capoeiras e a comercialização da sua madeira, tem criado uma série de requisitos esdrúxulos, como são planos de manejo complexos, permissões de corte com diâmetros mínimos e até taxas de reposição. Na verdade, uma das maiores vantagens da produção de madeira em capoeira é, precisamente, sua simplicidade. Basta eliminar excessos de densidade, espécies indesejáveis e cortar uma ou outra trepadeira. Ou seja, que apenas o bom senso e um facão bem afiado permitem um ótimo manejo. É ocioso solicitar planos de manejo e, de outra parte, é absurdo exigir diâmetros mínimos ou cobrar taxa de reposição, desde que a terra onde as capoeiras se desenvolvem é agrícola e usualmente privada ou comunitária. Neste caso, onde não se trata de conservar uma floresta, o diâmetro de corte deve ser fixado pela demanda. Tampouco pode se cobrar uma taxa de reposição para árvores que ocuparam temporariamente áreas agropecuárias as quais voltaram a servir para esse fim ao término da rotação. O Inrena, emulando o Ibama, só inventa martírios para quem faz algo bom e interessante. Para estimular o aproveitamento das matas secundárias bastaria com que essas instituições cuidassem de que sejam preservados os resíduos de mata original que a duras penas sobrevivem e providenciem o material genético, ou seja, as sementes, para formar as “capoeiras”.

Mas, não são só organismos públicos que não ajudam a manejar as “capoeiras”. Os próprios engenheiros florestais não gostam delas. As acham feias e despreciáveis e raramente prestaram atenção séria em suas possibilidades próprias e como paliativos ao desmatamento e à exploração irracional das matas naturais. Sempre favoreceram as plantações ou o manejo de florestas primárias. E isso se observa no nível nacional. No cerrado, por exemplo, onde a simples exclusão do fogo e do gado permitiria a regeneração da floresta da mata ciliar, os governos e seus técnicos exigem a plantação de árvores, com custos exorbitantes e péssimos resultados, devido à dificuldade da sua manutenção.

A necessidade é a mãe da invenção e das grandes mudanças. A madeira é um bem cada dia mais raro e mais caro e, por isso, como acontece no Peru, as “capoeiras” começam a ser aproveitadas e, sem dúvida, o serão cada vez mais. Que a visão do resultado inesperado da experiência de Curuá-Uma ilumine os que tomam decisões no setor florestal e que, assim, facilitem o processo para que esta opção de aproveitamento dos recursos naturais da Amazônia se desenvolva a plena capacidade e traga benefícios para sua gente e diminua a pressão sobre as cada día mais raras florestas originais.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Budowski e a divisão de espécies em grupos ecológicos


Caros,

segue o link para visualizar o artigo de Budowski (1965), denominado "Distribution of tropical American species in the light of succesional processes". É o trabalho que define a divisão em grupos ecológicos correntemente utilizada, com a definição de pioneiras, secundárias e climáxicas.

Acesse o artigo aqui.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Ok, não é técnico. Mas é belo. E faz pensar.

Oração do milho


Senhor, nada valho.
Sou a planta humilde dos quintais pequenos e das lavouras pobres,


Meu grão, perdido por acaso,
Nasce e cresce na terra descuidada.
Ponho folhas e haste, e se me ajudardes, Senhor, mesmo planta
De acaso, solitária,
dou espigas e devolvo em muitos grãos
o grão perdido inicial, salvo por milagre, que a terra fecundou.
Sou a planta primária da lavoura.
Não me pertence a hierarquia tradicional do trigo
E de mim não se faz o pão alvo universal.
O justo não me consagrou Pão de Vida, nem lugar me foi dado nos altares.
Sou apenas o alimento forte e substancial dos que
Trabalham a terra, onde não vinga o trigo nobre.
Sou de origem obscura e de ascendência pobre,
Alimento de rústicos e animais do jugo.


Quando os deuses da Hélade corriam pelos bosques,
Coroados de rosas e de espigas,
Quando os hebreus iam em longas caravanas
Buscar na terra do Egito o trigo dos faraós,
Quando Rute respigava cantando nas searas do Booz
E Jesus abençoava os trigais maduros,
Eu era apenas o bró nativo das tabas ameríndias.
Fui o angu pesado e constante do escravo na exaustão do eito.
Sou a broa grosseira e modesta do pequeno sitiante.
Sou a farinha econômica do proletário.
Sou a polenta do imigrante e a miga dos que começam a vida em terra estranha.
Alimento de porcos e do triste mu de carga.
O que me planta não levanta comércio, nem avantaja dinheiro.
Sou apenas a fartura generosa e despreocupada dos paióis.
Sou o cocho abastecido donde rumina o gado.
Sou o canto festivo dos galos na glória do dia que amanhece.
Sou o cacarejo alegre das poedeiras à volta dos seus ninhos.
Sou a pobreza vegetal agradecida a Vós, Senhor,
Que me fizestes necessário e humilde.
Sou o milho.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Ciclagem de nutrientes em florestas tropicais - trabalho de referência de Vitousek (1986)


Caros,

coloco a disposição um artigo de 1986, de Vitousek, que trata de aspectos bastante abrangentes da ciclagem de nutrientes em florestas tropicais. Boa referência.

Baixe o artigo aqui. Ou aqui.

sábado, 16 de abril de 2011

Artigo da década de 1950, mas pioneiro - enriquecimento em grupos Anderson, por...Anderson!!

Caros,

segue o artigo da revista Unasylva que trata dos princípios utilizados em plantios de enriquecimento. Os famosos grupos Anderson pelo autor - Anderson.

Baixe o artigo aqui.

Gabarito e Prova da SMAC para engenheiro florestal - atrasado mas vale ainda


caros,

baixe aqui a prova da SMAC para o concurso realizado em 10/04/2011, para engenheiro florestal. E aqui o gabarito.

Grande abraço!

terça-feira, 5 de abril de 2011

A verdade da mudança climática ainda é inconveniente


Paul Krugman
  • É assustador perceber que não faremos nada a respeito da mudança climática até que a catástrofe já esteja sobre nós

    "É assustador perceber que não faremos nada a respeito da mudança climática até que a catástrofe já esteja sobre nós"

A piada começa assim: um economista, um advogado e um professor de marketing entram em uma sala. Qual é o desfecho da piada? Eles eram três dos cinco “especialistas” convocados pelos republicanos para testemunharem em uma audiência sobre ciência climática no Congresso, na semana passada.

Mas os republicanos é que no final viraram objeto de ridículo, quando um dos dois cientistas de fato que convidaram para testemunhar saiu do roteiro.

O professor Richard Muller, um físico de Berkeley que entrou no jogo dos céticos climáticos, tem liderado o projeto Temperatura da Superfície da Terra de Berkeley, um esforço parcialmente financiando pela fundação Koch. E os negadores da mudança climática –que alegam que os pesquisadores da Nasa e de outros grupos que analisam as tendências climáticas estão distorcendo os dados– esperavam que o projeto de Berkeley concluiria que o aquecimento global é um mito.

Em vez disso, Muller relatou que os resultados preliminares do grupo apontam que a tendência de aquecimento global está “muito semelhante à relatada por outros grupos”.

A resposta dos negadores foi tanto previsível quanto reveladora; mais sobre isso em breve. Mas primeiro, vamos falar um pouco mais sobre a lista de testemunhas, que levantaram a mesma pergunta que eu e outros temos feito sobre várias audiências realizadas desde que o Partido Republicano retomou o controle da Câmara: onde eles encontram essas pessoas?

Minha favorita ainda é a primeira audiência de Ron Paul sobre política monetária, na qual a principal testemunha era alguém mais conhecido por escrever um livro condenando Abraham Lincoln como sendo um “tirano horrível” –e por defender um novo movimento de secessão, como resposta apropriada ao “novo Estado ‘fascista’ americano”.

Os não-cientistas da audiência da semana passada não eram do mesmo calibre, mas o depoimento preparado por eles ainda assim continha alguns momentos memoráveis. Uma foi a declaração do advogado de que a Agência de Proteção Ambiental não pode declarar as emissões de gases do efeito estufa como sendo uma ameaça à saúde, porque essas emissões estão em ascensão por um século, mas a saúde pública melhorou no mesmo período. Eu não estou inventando isso.

Ah, e o professor de marketing, ao fornecer uma lista de casos anteriores de “comparações ao alarme em torno do perigoso aquecimento global causado pelo homem” –presumivelmente visando mostrar por que devemos ignorar aqueles que se preocupam– incluía problemas como a chuva ácida e o buraco na camada de ozônio, que foram contidos precisamente graças à regulamentação ambiental.

Mas de volta a Miller. Suas credenciais de cético climático são fortes: ele condenou tanto Al Gore quanto meu colega Tom Friedman como “exageradores” e participou de vários ataques contra a pesquisa climática, incluindo à caça às bruxas em torno dos e-mails inócuos de pesquisadores climáticos britânicos. Sem causar surpresa, os negadores da mudança climática nutriam grandes esperanças de que seu novo projeto apoiaria seu argumento.

É possível imaginar o que aconteceu quando essas esperanças foram arruinadas.

Há poucas semanas, Anthony Watts, que dirige um site proeminente de negadores de mudança climática, elogiou o projeto de Berkeley e se declarou piamente “preparado para aceitar qualquer resultado que vier a produzir, mesmo que prove que minha premissa está errada”. Mas assim que soube que Muller apresentaria esses resultados preliminares, Watts desdenhou a audiência como “teatro político científico normal”. E um dos colaboradores frequentes de seu site desdenhou Miller como sendo “um homem movido por uma agenda muito séria”.

É claro, são os negadores da mudança climática que têm uma agenda, e ninguém que tem acompanhado esta discussão acreditou por um só momento que eles aceitariam um resultado confirmando o aquecimento global. Mas vale a pena recuar por um momento e pensar não apenas a respeito da ciência aqui, mas da moralidade.

Por anos, um grande número de cientistas proeminentes está alertando, com urgência cada vez maior, que se mantivermos os negócios como de costume, os resultados serão muito ruins, talvez catastróficos. Eles podem estar errados. Mas para afirmar que estão de fato errados, você teria a responsabilidade moral de abordar o assunto com extrema seriedade e mente aberta. Afinal, se os cientistas estiverem certos, você provocará um dano imenso.

Mas em vez de extrema seriedade, nós tivemos uma farsa: uma audiência supostamente crucial repleta de pessoas que não tinham nenhum sentido de estarem lá, e o ostracismo instantâneo para o cético da mudança climática que estava realmente disposto a mudar de ideia diante da evidência. Como eu disse, nenhuma surpresa: como Upton Sinclair apontou há muito tempo, é difícil fazer um homem entender algo quando seu salário depende de não entender.

Mas é assustador perceber que esse tipo de carreirismo cínico –pois é o que é– provavelmente tenha assegurado que não faremos nada a respeito da mudança climática até que a catástrofe já esteja sobre nós.

Pensando bem, eu estava errado quando disse que o Partido Republicano era o objeto de ridículo. Na verdade, o objeto de ridículo é a raça humana.

Tradução: George El Khouri Andolfato

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Do Fórum EcoDebate: O novo Código Florestal é bom para encher o papo, artigo de Paulo Mendes Filho

O novo Código Florestal é bom para encher o papo, artigo de Paulo Mendes Filho

Publicado em março 31, 2011 por HC

Tags: floresta zero, legislação ambiental

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De grão em grão a galinha enche o papo.

[EcoDebate] O negócio mais rentável no paradigma de desenvolvimento atual é o da agricultura industrial. Plantar soja e milho, transformá-los em combustível para as máquinas, alimentar humanos e animais confinados é o grande negócio dos capitalistas.

Não é a toa que nos EUA os alimentos industrias tem na base o milho e a soja. A maioria da carne consumida pelos obesos americanos são de animais confinados alimentados por rações destes grãos. A coca cola tem muito milho( xarope de caramelo) na sua secreta fórmula do que qualquer outro ingrediente, afora a água. O Mac Donald ( símbolo americano de alimentação industrial) é produto de milho, soja e publicidade, um sucesso de comida rápida e moderna. Os nuggtes, aqueles pedacinhos crocantes, o que são? Xarope de milho, gordura de soja, mas com sabor galinha, um sucesso de vendas.

Aqui no Brasil existem diferenças positivas em relação aos EUA, penso em duas delas: A primeira, temos o maior rebanho bovino comercial, portanto a nossa carne, pelo menos a bovina, é alimentada pelo capim e não pelos grãos. A segunda é de que, mesmo já tendo uma agricultura industrial forte, ainda existe uma boa quantidade de agricultores familiares produzindo alimentos em pequenas e médias propriedades de forma menos industrial. Somos mais campo e menos complexo industrial o que é melhor para saúde e para a natureza. .

Mas estas diferenças estão diminuindo, o paradigma da agricultura industrial está se espraiando rapidamente. Os grãos combustíveis, o confinamento de frango e porco alimentados por rações, as grandes redes de comercialização da comida industrial ( carrefour e walmart), a depêndencia dos insumos agroquímicos( o Brasil é o campeão no uso de veneno) , o avanço da transgenia e todo o entusiasmo pelo triunfo industrial como padrão de modernidade são os sinais mas fortes de que estamos no caminho da agricultura industrial. Muito em breve seremos o “cara” da agricultura industrial.

O que tudo isso tem a ver com as propostas de alteração do Código Florestal e depois dele com toda a legislação ambiental. Ora bolas, tem tudo a ver, a pressão por alimentos cresce, a população de consumidores do Brasil, China e a India crescem mais do que o resto, portanto a cadeia industrial de alimento barato tem que crescer. E vai crescer como? Crescer ocupando todo o espaço de terra disponível e incorporando novas e modernas tecnologias.para aumentar a produtividade.

Por isso tudo, mais do que as questões ambientais, o que está em jogo na alteração da legislação ambiental, é o padrão agrícola:Terra nas mãos de poucos donos produzindo energia para as máquinas e grãos para os animais e pessoas. Assim o campo deixa de ser um espaço de cultura,tradição, modo de vida e passa a ser uma planta industrial.

Penso que a meta no curto prazo é diminuir as áreas de pastagem e ocupar o máximo da terra, inclusive avançando sobre as áreas de Reserva Ambiental ( RL e APP), com a produção de matéria prima industrial. Reduzir o apoio à agricultura familiar e à reforma agrária; ampliar o apoio ao agronegócio e aos grupos que oferecem respostas de curto prazo fazem parte da estratégia . Jogar para os brasileiros do futuro os problemas ambientais do presente e todos os reflexos de longo prazo que decorrerão desta miopia que não enxerga além do curto prazo, e embarcar nela, como se esta fosse a única opção, como se incluisve o que é ruim para os USA pudesse vir a ser bom para o Brasil é o paradigma do crescimento pelo crescimento.

Neste modelo produzirá quem for mais eficiente, e a eficiência na agricultura industrial está relacionada com aplicação de capital, tecnologia e inovação. Os agricultores familiares estão fora desta equação, que apenas repete e amplia a tsunami da Revolução Verde. Serão cidadãos de outro tipo, não mais agricultores, poderão no máximo subsistir no campo ou na cidade como parte da mão de obra incoporada ao sistema industrial.

E no tempo, a base do nosso desenvolvimento, o território e povo rural brasileiros, a biodiversidade e a cultura nacional, serão reformatados para cumprir um triste destino: Produzir para agricultura industrial alimento barato para aumentar o lucro do patrão. Voltaremos a ser uma colônia exportadora de matérias primas, pois é assim que a galinha enche o papo!

Paulo Mendes Filho é Secretário de Meio Ambiente da CUT/RS

EcoDebate, 31/03/2011

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