Espécies exóticas são utilizadas para reflorestamento de biomas no Brasil
Crescimento acelerado e conhecimento sobre elas são os principais motivos
Nem todas as espécies exóticas são invasoras, ou seja, nem todas elas perturbam a harmonia do habitat de forma a diminuir o número de espécies nativas no local ou ameaçá-las de extinção. Algumas espécies exóticas, por exemplo, fazem parte da nossa alimentação cotidiana como a batata e o tomate. Outras, como o eucalipto, que é originário da Austrália, é hoje um forte aliado na preservação da Mata Atlântica e do Cerrado brasileiros. Em Minas Gerais, toda a madeira utilizada para a fabricação de carvão vegetal é oriunda do eucalipto, uma espécie exótica. No entanto, pesquisadores e especialistas garantem que uma espécie nativa é sempre melhor que uma espécie exótica para o equilíbrio de um determinado ambiente.
“É incontestável a colaboração do eucalipto para a preservação de alguns biomas como a Mata Atlântica, por exemplo. Mas existe uma biodiversidade tão grande em nosso país, que acho muito estranho não existir uma árvore nativa que possa substituir o eucalipto como instrumento de reflorestamento. O pau-jacaré é uma espécie que um tem potencial energético absurdo e poderia ser utilizado no lugar do eucalipto para a produção de carvão, mas é ignorado. Então, acho que falta estudo e conhecimento sobre as nossas espécies”, explica Ciro Moura, engenheiro florestal, mestre em Ecologia e Evolução pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e coordenador de Projetos na Signus Vitae, empresa de consultoria na área ambiental.
Para Ciro, o que leva à utilização de espécies exóticas em processos de reflorestamento – a Embrapa utiliza um pacote tecnológico com quatros dessas espécies (leucena, acácias, acácia-manjo, albizia) – é o tempo curto em que elas conseguem “recuperar” as áreas degradadas. Uma solução rápida que, no entanto, segundo Ciro, não é a mais indicada. “Este é um processo que funciona rápido porque as espécies exóticas se desenvolvem mais rápido, então temos a impressão de que aquele espaço antes vazio foi preenchido com eficácia. O reflorestamento só tem êxito quando a floresta se autodetermina, ou seja, quando a troca de material genético entre as espécies acontece por si só.”, detalha.
Em parceria com a ONG SOS Mata Atlântica e a Prefeitura do Rio de Janeiro, Ciro e sua equipe fazem um resgate de conhecimento da essência florestal nativa, coletando espécies que não se sabe o nome vulgar. Isso acontece porque com a introdução de espécies exóticas, o distanciamento das espécies nativas se tornou tão grande, que eles rebatizam essas espécies até achar indícios que permitam encontrar na literatura botânica o seu nome vulgar já descrito. A equipe coleta, produz a muda, e faz uma recuperação de áreas degradadas com espécies nativas a fim de restaurar o equilíbrio ambiental e observar as interações ecológicas estabelecidas entre as espécies. Isso ocorre nos municípios fluminenses de Mendes, Volta Redonda, Valença, São Gonçalo, Seropédica e também no estado de São Paulo, em Itu.
Além das espécies exóticas crescerem rapidamente já se sabe como elas vão se expandir e interagir com as outras espécies, e como lidar com elas em relação à pragas, enfim, como identificar e solucionar esse tipo de problema. Diferentemente do que ocorre com as espécies nativas, sobre as quais muitas vezes se tem pouco conhecimento. Para Ciro, este é o principal fator, e é preciso investir em estudos e educação ambiental para que se crie um pacote tecnológico de espécies nativas, o que permitirá um resultado a longo prazo com uma troca eficaz de material genético entre as espécies, equilibrando os biomas.
“Tudo é uma questão de estudo e conhecimento. A gente observa o padrão de sucessão ecológica e imita o que a natureza faz. Identificamos o bico-de-pato, a arueira, o araçá, a pororoca e o aleluieiro que tem a mesma função de recuperação da Mata Atlântica e são nativas. Nessa observação, notamos que ao misturar as exóticas com as nativas, as primeiras têm comportamento agressivo e crescimento acelerado e invasivo tirando o espaço das nativas. É evidente que a escala de tempo de reflorestamento com espécies nativas é muito maior, mas só assim teremos diversidade no solo e na fauna”, finaliza.
“Tudo é uma questão de estudo e conhecimento. A gente observa o padrão de sucessão ecológica e imita o que a natureza faz. Identificamos o bico-de-pato, a arueira, o araçá, a pororoca e o aleluieiro que tem a mesma função de recuperação da Mata Atlântica e são nativas. Nessa observação, notamos que ao misturar as exóticas com as nativas, as primeiras têm comportamento agressivo e crescimento acelerado e invasivo tirando o espaço das nativas. É evidente que a escala de tempo de reflorestamento com espécies nativas é muito maior, mas só assim teremos diversidade no solo e na fauna”, finaliza.
Dartagnan Emerenciano, professor de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e coordenador do convênio entre a UFPR e a Universidade Eduardo Mondlane, em Moçambique, atua em um processo de plantio de araucárias no país africano. Originariamente brasileira, a espécie é exótica naquele país, onde seu plantio está em fase experimental, na floresta de Inhamacari, pertencente ao Centro Agroflorestal de Machipanda da Universidade Eduardo Mondlane (Cefloma).
“O desenvolvimento inicial está mostrando resultados excelentes e estamos monitorando o crescimento analogamente com as do Brasil. Encontrei araucárias aqui com 45 anos de idade, que foram plantadas pelos portugueses quando Moçambique era colônia portuguesa. As árvores adultas apresentaram ótimo desenvolvimento e madeira de altíssima qualidade. Tanto que os pinhões, passaram a fazer parte da alimentação das populações vizinhas dos plantios. Isso depois de mostrarmos a eles as diversas formas de aproveitamento do pinhão como alimento. Em uma região em que a alimentação básica é de farinha de milho e peixe seco, o pinhão passou a ter um valor muito importante”, conta Dartagnan.
Para ele, os benefícios são maiores do que prejuízos ao habitat pela própria natureza do desenvolvimento da araucária e da composição de seus povoamentos. “O seu crescimento, não muito rápido, quando comparado ao pinus e ao eucalipto a torna uma espécie estável, de fácil controle e que traz benefícios."
Segundo Dartagnan, as espécies nativas em Moçambique também são plantadas com o objetivo de manutenção e preservação da continuidade das suas existências. Muitas apresentam o crescimento muito lento e levam anos até atingir a sua maturidade biológica. E como o país depende de recursos florestais para energia, construções, etc, o plantio das araucárias pode representar uma solução.
“Isso hoje, por não termos mais abundância de várias espécies, se torna um perigo a médio prazo pois a população do interior do país, corta as árvores no início do seu desenvolvimento para produzir carvão, por exemplo, e com rendimentos em média de apenas 25%, ou seja 75% da madeira cortada vira cinzas. Portanto, temos que pesquisar continuamente alternativas com espécies de rápido crescimento, devidamente manejadas para que permaneçam apenas nas suas áreas de plantio e que não se tornem invasoras e sejam comparadas a pragas incontroláveis. O manejo florestal adequado é o fundamento para o devido controle. A implantação de qualquer espécie requer análises e monitoramento contínuo para se comprovar o seu benefício ao ambiente onde está sendo plantada. Existem razões econômicas que muitas vezes se sobrepõem a esses benefícios, e tudo dependerá dos órgãos fiscalizadores para que não ocorram a longo prazo danos ao ambiente e mesmo desastres ecológicos”, finaliza.
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