domingo, 3 de janeiro de 2010

Tragédias em Angra dos Reis e Rio de Janeiro são recados para o Brasil

As fortes chuvas registradas em diversas partes do Brasil na virada de 2009 para 2010 provocaram tragédias que ainda repercutem. Em Angra dos Reis os mortos já estão na casa dos 40, e na Região Metropolitana do Rio de Janeiro a ordem de grandeza é a mesma.

As manifestações das autoridades são variadas, e não é minha intenção comentá-las aqui. O que quero discutir é uma questão estrutural. O Brasil não pode abrir mão da ordenação adequada do solo!

Vejam esta imagem, registrada em Angra dos Reis, na Ilha Grande, na enseada do Bananal, onde uma pousada e várias casas foram soterradas:

Fonte: O Globo, 02/01/2009


Notem a rocha exposta após o deslizamento, revelando um solo extremamente raso diretamente assentado sobre ela. Notem a declividade elevada, e avaliem se deveriam ser construídas casas no sopé desta encosta. Você construiria?

Vejam esta outra foto:

Fonte: http://tweetphoto.com/7853021 (ao autor da foto: se não autoriza a reprodução, entre em contato que eu retiro a imagem).

Este é o morro da Carioca, também em Angra dos Reis. Vejam a ocupação tanto na base quanto no topo do morro, gerando pontos múltiplos de instabilização. Vale lembrar que as residências contribuem decisivamente para a deflagração de movimentos de massa, devido à alteração do perfil da encosta e ao lançamento de águas servidas, cuja infiltração no terreno reduz a coesão de partículas e eventualmente leva à separação entre camadas de solo, resultando em deslizamentos.

Lembremos que 2009 foi marcado por intensas discussões sobre a alteração do Código Florestal, o que na prática reduz a área ocupada por vegetação protetora de mananciais, encostas e margens de rios. Será que estas imagens são capazes de mostrar quais serão as consequências?

Outro discurso muito comum é o da crítica ao excesso de Unidades de Conservação no Brasil, e os empecilhos trazidos por sua existência ao desenvolvimento do Brasil. Será que elas são criadas sem razão? Ou há um sentido em se manter vegetação e áreas desocupadas em determinadas porções do território nacional? Será que deveria ter havido ocupação no morro da Carioca? Ou nos locais ocupados na cidade do Rio de Janeiro, nos quais, como em Angra, também morreram famílias inteiras?

É claro que as chuvas foram excepcionais para o período, e em alguns casos tiveram resultados imprevisíveis. Mas na maioria dos casos fica claro que a ocupação inadequada do solo foi a causa da tragédia.

Aos que lêem este blog, por favor, comentem, contribuam. O momento é grave, e precisamos agir!

Bom dia. E bom 2010 para todos.

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