06 JANEIRO 2011
Financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a pesquisa foi desenvolvida em duas áreas experimentais localizadas em duas APPs na Usina São João (USJ), em Araras (interior de São Paulo). Entre os anos de 2006 e 2007, pesquisadores do Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal (LERF), coordenado pelo professor Ricardo Rodrigues, realizaram o Programa de Adequação Ambiental da USJ. “Naquela época foram realizados os primeiros contatos com os administradores, especialmente do Programa Margem Verde, que já executava plantios de árvores na usina, sobre o interesse em utilizar áreas com passivo ambiental para implantação de experimentos de restauração florestal pelo LERF”, relata Ingo.
A pesquisa testou diferentes densidades de sementes de espécies arbóreas nativas necessárias para a ocupação inicial das áreas degradadas. Uma vez instalados os experimentos, avaliaram-se também o tempo para ocupação dessas áreas e os investimentos financeiros necessários, além de parâmetros de desenvolvimento da comunidade florestal. Para a primeira ocupação da área degradada foram utilizadas espécies arbóreas nativas de rápido crescimento e que fornecessem boa cobertura de copa (semeadura de preenchimento, com espécies denominadas “espécies de preenchimento”). Algumas das espécies utilizadas para preenchimento foram timboril (Enterolobium contortisiliquum), mutambo (Guazuma ulmifolia), lobeira (Solanum lycocarpum), pau-cigarra (Senna multijuga), monjoleiro (Acacia poliphylla), paineira (Ceiba speciosa), sangra-d’água (Croton urucurana), capixingui (Croton floribundus), canafístula (Peltophorum dubium), entre outras.
Sustentabilidade
Uma vez ocupadas as áreas, foi feita a semeadura de enriquecimento, com espécies diferentes das primeiras, promovendo a auto sustentabilidade da floresta. Nessa etapa, foram plantadas espécies como jatobá (Hymenaea courbaril), cedro (Cedrela fissilis), cabreúva (Myroxylon peruiferum), jequitibá (Cariniana estrellensis), pau-marfim (Balfourodendron riedelianum) e a copaíba (Copaifera langsdorfii), entre outras trinta espécies. Os resultados mostraram que houve excelente cobertura da área degradada em cerca de dois anos e meio, período semelhante ao que normalmente acontece com o plantio de mudas. As densidades testadas permitiram também a formação de uma comunidade florestal mais densa do que a formada por plantios de mudas em espaçamento 3 metros (m) x 2m (mais comum). Enquanto nesse método a densidade é de 1.666 indivíduos/hectare, na semeadura direta alcançaram-se densidades estimadas entre 1.215 e 13.000 indivíduos/hectare.
“O custo para aquisição de sementes para obter uma muda no campo a partir de semeadura direta da maioria das espécies utilizadas pode ser duas a três vezes menor que o preço de uma muda em viveiro”, revela o pesquisador. “Ressalte-se que o método pode e deve ser adotado de forma complementar ou associado ao plantio de mudas, e não necessariamente substituir o mesmo. Não foi possível avaliar, durante o tempo de execução da tese, se a semeadura direta de enriquecimento é viável técnica e economicamente, mas os resultados preliminares também indicam que o método é promissor, podendo ser adotado inclusive para outras formas biológicas, como arbustos e lianas.”
Ingo salientou também que é importante desenvolver o manejo de sementes de espécies nativas, desde a colheita no momento apropriado até o armazenamento. “A qualidade do lote de sementes pode ter implicações diretas, junto a outros fatores de campo, no sucesso do método”, enfatiza. “É necessário atentar ainda para problemas relacionados à infestação por plantas daninhas especialmente nos primeiros meses após a semeadura, ao revolvimento do solo por animais, à predação por formigas e à profundidade em que é colocada a semente, entre outros fatores que devem ainda ser melhor estudados”.
A pesquisa faz parte da tese de doutorado “ Uso de semeadura direta de espécies arbóreas nativas para restauração florestal de áreas agrícolas, sudeste do Brasil”, apresentada no Programa de Pós-graduação em Recursos Florestais da Esalq. O trabalho teve orientação do professor Ricardo Ribeiro Rodrigues, do Departamento de Ciências Biológicas (LCB) da Esalq.
Agência USP
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