domingo, 21 de fevereiro de 2010

Emprestado do Blog do Sakamoto: Quanto custa comprar uma criança? E um trabalhador?

Caros,

depois de longa pausa em assuntos técnicos, retomo as postagens do blog com uma postagem emprestada do Sakamoto (http://blogdosakamoto.uol.com.br). Vale uma visita, é muito bom.

Peço que atentem ao tema. Nestes tempos de grandes obras, PAC, infraestrutura, etc., nas quais pensamos muito em impactos ambientais - nada de errado, somos profissionais da área - às vezes não consideramos da maneira mais adequada os impactos socioeconômicos. Por isso, leiam e releiam o que vem a seguir:

Quanto custa comprar uma criança? E um trabalhador?

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No Pará, ouvi um garimpeiro reclamar que o bordel que frequentava só tinha “puta com idade de vaca velha”. Ou seja, 12 anos. Para levar, de R$ 20,00 a R$ 40,00.

Em um posto de combustível no Tocantins, meninas, baixinhas, franzinas, ofereciam programas. Um dos meus companheiros de viagem explicou que elas entram na boléia do caminhão por menos de R$ 30,00.

Um trabalhador no Maranhão me contou que, antes de se tornar escravo, foi comprado por um fazendeiro para limpar pasto e derrubar floresta amazônica. Seu preço: R$ 80,00.

A Belém-Brasília, que foi construída sob a justificativa de integrar o país e ocupar o interior ajudou a enriquecer alguns poucos, trouxe outros milhares que perseguiam um sonho de vida melhor e viu milhões serem explorados em fazendas, carvoarias, bordéis, fábricas, garimpos, mineradoras do seu entorno. Em sua região de influência, convivem a riqueza, que manda suas filhas estudarem no exterior, e a pobreza, que empurra as suas filhas para os postos nas madrugadas quentes. Ou seja, não faltam exemplos do que acontece quando o desenvolvimento vem na forma de grandes projetos, como hidrelétricas, siderúrgicas, estradas, estádios da Copa, sem se preocupar com a qualidade de vida das pequenas pessoas.

O tema vai surgir nas eleições presidenciais e estaduais desde ano como parte do debate sobre geração de empregos. Mas, tenha a certeza, sem que se discuta que empregos são esses.

Pedro Casaldáliga, símbolo da luta pelos direitos humanos no Brasil, nos contou que ouviu uma justificativa para toda essa exploração da boca de um fazendeiro português com terras no Mato Grosso: “Dom Pedro, o senhor é europeu, o senhor sabe. As calçadas de Roma foram feitas por escravos. O progresso tem seu preço”.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Calma: o Blog está parado, mas é para reavaliação

Caros leitores,

o Blog está há mais de um mês sem postagens, mas é para fins de reavaliação e balanço. Voltarei a postar em breve, de forma menos fragmentária e mais temática.

Até o próximo encontro!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Monografia sobre comparação de desempenho e custo de diferentes modelos de reflorestamento


Caros,

deixo disponível link da UFRRJ para baixar uma monografia de 2007, de Daniel Nascimento. O trabalho é relativo ao desempenho inicial de diferentes modelos de revegetação, e a comparação de seus respectivos custos.

Baixe o material aqui.

Artigo científico sobre sucessão secundária na Ilha Grande


Caros,

a Ilha Grande é cenário de uma das maiores tragédias já vistas no estado do Rio de Janeiro. E estes fatos decorrem, muitas vezes, da não observância de características naturais do ambiente que está sendo manipulado.

Deixo em anexo link para baixar um trabalho do professor Rogério Oliveira, da PUC-RJ, sobre a sucessão de florestas na Ilha Grande, e sua relação com ações humanas no passado. Vale a pena ler e guardar, pois é um documento bastante elucidativo sobre estes processos.

Baixe o material aqui.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Tragédias em Angra dos Reis e Rio de Janeiro são recados para o Brasil

As fortes chuvas registradas em diversas partes do Brasil na virada de 2009 para 2010 provocaram tragédias que ainda repercutem. Em Angra dos Reis os mortos já estão na casa dos 40, e na Região Metropolitana do Rio de Janeiro a ordem de grandeza é a mesma.

As manifestações das autoridades são variadas, e não é minha intenção comentá-las aqui. O que quero discutir é uma questão estrutural. O Brasil não pode abrir mão da ordenação adequada do solo!

Vejam esta imagem, registrada em Angra dos Reis, na Ilha Grande, na enseada do Bananal, onde uma pousada e várias casas foram soterradas:

Fonte: O Globo, 02/01/2009


Notem a rocha exposta após o deslizamento, revelando um solo extremamente raso diretamente assentado sobre ela. Notem a declividade elevada, e avaliem se deveriam ser construídas casas no sopé desta encosta. Você construiria?

Vejam esta outra foto:

Fonte: http://tweetphoto.com/7853021 (ao autor da foto: se não autoriza a reprodução, entre em contato que eu retiro a imagem).

Este é o morro da Carioca, também em Angra dos Reis. Vejam a ocupação tanto na base quanto no topo do morro, gerando pontos múltiplos de instabilização. Vale lembrar que as residências contribuem decisivamente para a deflagração de movimentos de massa, devido à alteração do perfil da encosta e ao lançamento de águas servidas, cuja infiltração no terreno reduz a coesão de partículas e eventualmente leva à separação entre camadas de solo, resultando em deslizamentos.

Lembremos que 2009 foi marcado por intensas discussões sobre a alteração do Código Florestal, o que na prática reduz a área ocupada por vegetação protetora de mananciais, encostas e margens de rios. Será que estas imagens são capazes de mostrar quais serão as consequências?

Outro discurso muito comum é o da crítica ao excesso de Unidades de Conservação no Brasil, e os empecilhos trazidos por sua existência ao desenvolvimento do Brasil. Será que elas são criadas sem razão? Ou há um sentido em se manter vegetação e áreas desocupadas em determinadas porções do território nacional? Será que deveria ter havido ocupação no morro da Carioca? Ou nos locais ocupados na cidade do Rio de Janeiro, nos quais, como em Angra, também morreram famílias inteiras?

É claro que as chuvas foram excepcionais para o período, e em alguns casos tiveram resultados imprevisíveis. Mas na maioria dos casos fica claro que a ocupação inadequada do solo foi a causa da tragédia.

Aos que lêem este blog, por favor, comentem, contribuam. O momento é grave, e precisamos agir!

Bom dia. E bom 2010 para todos.