sábado, 20 de junho de 2009

Mercado de carbono fora da ONU é opção

16/06/2009 - 17:51:23

Fabiano Ávila, do CarbonoBrasil

Impasse nas negociações internacionais faz ganhar força a idéia de que os países desenvolvidos possam estabelecer um mercado mundial de permissões independente das Nações Unidas e de um novo protocolo climático.

Segundo representantes de ONGs e especialistas em cap-and-trade que estão acompanhando as rodadas de negociações climáticas é crescente o sentimento de que os países ricos possam fazer algo por conta própria com relação ao aquecimento global.

A falta de consenso sobre o novo acordo climático que substituirá Kyoto em 2012 estaria levando as nações ricas a pensar na criação de um mercado mundial de carbono sem nenhuma ligação com a ONU.

Para especialistas, os Estados Unidos e a União Européia já possuem as bases para esse tipo de comércio e poderiam atrair países como a China para o novo mercado sem grandes dificuldades. Além disso, conseguiriam evitar ter que fazer as concessões que estão sendo exigidas deles para que se alcance um acordo sobre o novo pacto climático.

“Fazer todos concordarem com tudo em Copenhague será extremamente difícil. Assim, essa idéia de um mercado fora do novo protocolo não é tão absurda ou improvável assim”, afirmou Peter Fusaro, especialista em comércio de carbono da Global Change Associates.

Um mercado global entraria sem problemas dentro da legislação climática que está sendo debatida nos EUA, que prevê a compra pelas indústrias poluidoras norte-americanas de até um bilhão de toneladas de permissões internacionais por ano.

Apesar de poder ser visto como um plano B ou até uma fuga das verdadeiras negociações climáticas, alguns ambientalistas não acham a idéia do mercado inteiramente má. “Países como os EUA, China e México podem até conseguir fazer mais pelo planeta trabalhando domesticamente do que no cenário internacional”, afirmou Nathaniel Keohane, diretor da ONG norte-americana Fundo de Defesa do Meio Ambiente.

Bonn

Reforçando a noção de um impasse mundial, a segunda rodada de negociações climáticas, que terminou na semana passada em Bonn, na Alemanha, não alcançou nenhum objetivo concreto em relação aos debates sobre o tamanho das metas de redução.

China e muitos países em desenvolvimento querem que os ricos cortem ao menos 40% das emissões até 2020 em relação aos níveis de 1990. Porém, até agora os anúncios de metas variaram entre 8% a14%.

Estados Unidos e União Européia ainda deixaram claro em suas declarações finais que o setor privado é que deveria financiar a luta contra as mudanças climáticas, não os governos.

Apesar disso, o secretário-executivo da Convenção sobre a Mudança Climática da ONU, Yvo de Boer conseguiu ver avanços no encontro. “As posições dos países estão cada vez mais claras, assim como suas propostas. Dessa forma as negociações no futuro tendem a ser mais francas e rápidas”, declarou.

G8 deveria liderar

Neste fim de semana também foi realizado o fórum da Organização Global de Legisladores para o Equilíbrio Ambiental em Roma, no qual mais de uma centena de políticos assinaram um documento onde afirmam que o tempo está se esgotando para que se chegue a um consenso sobre o futuro pacto climático e que cabe ao G8 a responsabilidade de fazer com que ele aconteça.

“É tempo de concretizar as promessas e fazer as coisas acontecerem. Muitos países estão esperando uma decisão por parte do G8 com relação às mudanças climáticas”, afirmou Stephen Byers, ex-ministro de comércio britânico e presidente da Organização Global de Legisladores.

A resolução final do encontro sugeriu o repasse de até 140 bilhões de euros por ano entre 2010 a 2020 para que os países mais pobres possam realizar os cortes de suas emissões e se adaptem às conseqüências do aquecimento global.

O documento afirma ainda que as nações desenvolvidas deveriam disponibilizar esse dinheiro o mais rápido possível para ajudar nas negociações do futuro tratado climático que será debatido em dezembro em Copenhague.

(Envolverde/CarbonoBrasil)

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