sábado, 11 de julho de 2009

Direto do site do IPEF - o que são Florestas Urbanas

Silvicultura Urbana - O Desenho Florestal da Cidade

Prof. Demóstenes Ferreira da Silva Filho
Professor Assistente do Departamento de Ciências Florestais da ESALQ/USP
E-mail: dfsilva@esalq.usp.br
Atualizado em 01/04/2003

Introdução e Definições

Desde a antiguidade a árvore, como imagem mítica, foi utilizada como símbolo do crescimento espiritual do ser humano. Existe entre o ser humano e as árvores uma afinidade estrutural psíquica, intimamente associada ao crescimento e realização de potenciais. A árvore adulta já está contida na semente. O ser humano também carrega em estado germinal, no fundo do inconsciente, aquilo que poderá vir a ser (MILANO & DALCIN, 2000).

As cidades, hoje, já abrigam mais ou menos a metade da população do planeta e, em vários países, entre os quais o Brasil, mais de 80% da população (IBGE, 2002).

Tanto por este motivo, a concentração populacional, quanto pela forma como surgem, crescem e são organizadas, as cidades tornam-se também, de maneira geral, os extremos da ação humana nos sistemas naturais (MILANO & DALCIN, 2000).

As florestas urbanas podem ser definidas como a soma de toda a vegetação lenhosa que circunda e envolve os aglomerados urbanos desde pequenas comunidades rurais até grandes regiões metropolitanas (MILLER, 1997).

As florestas urbanas são ecossistemas compostos pela interação entre sistemas naturais e sistemas antropogênicos (NOWAK et al 2001).

As árvores de ruas, praças, parques, áreas de conservação urbanas e demais áreas livres de edificação, fazem parte de um ramo da Silvicultura que se chama Silvicultura Urbana.

O objetivo da Silvicultura Urbana é o cultivo e o manejo de árvores para a contribuição atual e potencial ao bem estar fisiológico, social e econômico da sociedade urbana (COUTO, 1994).

As árvores em vias públicas e demais áreas livres de edificação são constituintes da floresta urbana, atuam sobre o conforto humano no ambiente, por meio das características naturais da vegetação arbórea, proporcionando sombra para pedestres e veículos, redução da poluição sonora, melhoria da qualidade do ar, redução da amplitude térmica, abrigo para pássaros e harmonia estética amenizando a diferença entre a escala humana e outros componentes arquitetônicos como prédios, muros e grandes avenidas.

Segundo MILANO & DALCIN (2000), existem aspectos positivos das árvores nas cidades os quais podem ser mensurados, avaliados e monitorados, caracterizando benefícios e, conseqüentemente, objetivos que passam a ser estabelecidos no planejamento:
- estabilização e melhoria microclimática;
- redução da poluição atmosférica;
- diminuição da poluição sonora;
- melhoria estética das cidades;
- ação sobre a saúde humana;
- benefícios sociais, econômicos e políticos.

Pode-se citar também a absorção da radiação ultravioleta, dióxido de carbono e a redução do impacto da água de chuva e seu escorrimento superficial.

O objetivo desse texto é apresentar a Silvicultura Urbana como ferramenta e meio de atuação profissional do Engenheiro Florestal, na obtenção da melhoria da qualidade de vida nas cidades, através do estudo dos espaços livres urbanos e avaliação do seu potencial para serem planejados como integrantes da floresta urbana.

O Desenvolvimento Urbano e as Áreas Verdes

Segundo MACEDO (1995) o espaço livre de edificação, como elemento de projeto é praticamente desconhecido pelos profissionais e pela população, que o vêem como um espaço residual a ser ajardinado ou simplesmente deixado de lado.

MILANO & DALCIN (2000) citam o surgimento da luz elétrica e a expansão da oferta dos serviços de abastecimento de água, coleta de esgoto e telecomunicações, trazendo para as cidades como o Rio de Janeiro, um complexo sistema de cabos, galerias e dutos que tomam conta do ar e do subsolo. A rede aérea de energia passou a interferir de forma decisiva no plano de arborização da cidade. Na seqüência, com o advento da era “desenvolvimentista” e da explosão imobiliária na década de 60 houve a perda dos jardins privados e a impermeabilização do solo e o patrimônio das áreas verdes das cidades ficaram cada vez mais restritos à arborização de ruas, praças, parques e maciços florestais.

Pode-se acrescentar ainda a compactação e baixa fertilidade do solo resultantes dos processos de movimentação de terra para urbanização de loteamentos. De maneira semelhante, o processo de evolução da ocupação e uso do solo urbano, especificado no parágrafo anterior, ocorreu na grande maioria das cidades brasileiras.

Segundo MACEDO (1995), parece então urgente uma revisão no ideário sobre espaços livres de edificação e ações são fundamentais:
- A afirmação e o aceite da existência formal de um sistema urbano de espaços livres de edificação, que deve abarcar todos os espaços livres existentes, sejam eles espaços para lazer, ou circulação, verdes ou azuis, plantados ou não.
- O abandono da idéia do “alcance” de medidas de metros quadrados por habitante como uma panacéia (incansável) aos problemas urbanos de carência de áreas de lazer e conservação de recursos ambientais, esquecendo-se definitivamente o malfadado índice de 12 m2/ habitante de área verde.
- O estabelecimento de critérios de distribuição de espaços livres públicos, que deve ser delimitado de acordo com carências sociais, acessibilidade e manutenção de recursos ambientais finitos, como água e florestas nativas e de proteção de solos frágeis.
- O estabelecimento prévio ao crescimento urbano, as expansões das cidades de áreas prioritárias à construção e/ou efetivação de espaços livres, isto é, a criação e manutenção de estoques/reservas de futuros espaços livres públicos para lazer e conservação.
- A revisão dos padrões de distribuição dos espaços livres intra-quadras, questionando-se os modelos oficiais, e seus graus de eficiência redefinindo-se os limites desejáveis (se desejáveis) de privatização do lazer.
- A idealização de quadras urbanas, especialmente aquelas verticalizadas, são sistemas complexos, onde flui a vida humana e cujos espaços livres devem ser tratados como sistemas que são, não como espaços residuais.
- A revisão dos padrões de projeto dos espaços livres, que são extremamente padronizados para o país, buscando-se adequar cada um deles ao contexto do território nacional em que estiver situado.
- O reconhecimento do papel da rua como espaço de lazer e uma conseqüente revisão de seus padrões de desenho e projeto.
- A inclusão das praias e áreas de beira-água (rios, lagos e represas) quando utilizados pela comunidade como participantes efetivos dos sistemas de espaços livres de edificação urbanos e/ou como áreas de reserva para lazer e ou conservação.

Áreas Verdes e Arborização Viária

Estudos sobre áreas verdes urbanas

Estudos recentes sobre espaços livres de edificação foram promovidos procurando-se avaliar o uso dessas áreas pela população, sua história, seus equipamentos, sua dinâmica, assim como seu alcance para atender a comunidade local e bairros próximos (MACEDO, 1995), (ANGELIS & ANGELIS NETO, 2000), (PEGOLO & DEMATTÊ, 2002) e (MACEDO & SAKATA, 2002).

Segundo ANGELIS & ANGELIS NETO (2001), deve-se ter uma visão macro da cidade de tal forma que o espaço livre, a ser planejado ou avaliado, esteja inserido nesse contexto, propiciando a continuidade de um sistema de espaços livres urbanos interligados – parques, praças, hortos, reservas florestais, fundos de vale, arborização de acompanhamento viário e outros. Não se pode analisar um desses fatores sem se considerar a existência dos demais e não cabe aqui determinar-se um número, uma vez que os índices são contraditórios e dificultam mais o trabalho que auxiliam.

Como exemplo, pode-se citar PEGOLO & DEMATTÊ (2002) que encontraram diferenças relevantes na situação das praças de Taquaritinga/SP e Jaboticabal/SP, cidades vizinhas, mas com grandes diferenças na maneira com que a população utiliza seus espaços livres ao longo da história. Como características comuns observou-se que as praças não são mais usufruídas como em tempos passados. Antigamente, eram o centro dos acontecimentos políticos e das festividades religiosas, de atos cívicos e sociais. Nos finais de semana, moradores das zonas urbana e rural dirigiam-se às praças, pois ali havia diversão, o lazer de outras épocas, os encontros, o início de muitas histórias e o fim de outras tantas.

Segundo ANGELIS & ANGELIS NETO (2000), com o surgimento de outras formas alternativas de lazer e novos locais para o estabelecimento do comércio, associado ao descaso persistente do poder público frente à manutenção das praças, essas passaram a constituir-se em um fragmento a mais dentro da malha urbana.

Com o tempo as mudanças vieram e as praças foram deixando de ser um espaço prioritário de recreação. Atualmente, a maioria das pessoas tem outras necessidades e sente o mundo ao seu redor de modo diferente. Isso não significa que os espaços verdes urbanos precisem cair no esquecimento, pois são ecologicamente importantes, possuem valores estéticos além de auxiliarem na redução da amplitude térmica e novos usos podem ser estendidos a eles, com equipamentos adequados. Instigando-se novas formas de percepção do ambiente urbano, seria possível ampliar as relações positivas da população com a paisagem. O apreço pelos espaços verdes poderia ser resgatado, mesmo que as pessoas não mais se utilizassem deles da forma como faziam antes. Dois pontos não devem ser esquecidos: a constante participação do Poder Público e a conscientização (PEGOLO & DEMATTÊ, 2002).

Torna-se imperativo repensar o papel que os espaços públicos têm nos dias de hoje. Nesse contexto toma vulto a questão do desenho urbano, não sendo mais possível planejar a cidade dissociada da questão social. E ao mencionar-se o desenho urbano, refere-se, inclusive, às minúcias dos diversos logradouros e, em se tratando das áreas livres de edificação verdes e praças isso significa o estudo de seu mobiliário, sua tipologia e sua inserção na malha urbana. O somatório desse conhecimento propicia um diagnóstico preciso sobre esses espaços, ao mesmo tempo em que fornece subsídio na busca de soluções para se fazer frente aos problemas sociais ocorrentes nesses logradouros e na cidade como um todo (ANGELIS & ANGELIS NETO, 2000).

Para MACEDO & SAKATA (2002), os parques urbanos brasileiros são figuras que acompanham a formação das cidades e as transformações da sociedade brasileira e suas formas de expressão. Ao longo dos séculos XIX e XX, os parques passaram de espaços onde a elite passeava vestida à européia contemplando a natureza recriada e confabulando com seus pares para espaços democráticos onde todos podem correr, brincar e divertir-se, onde os recursos naturais são preservados, onde as cidades brasileiras, cada vez mais densas, respiram aliviadas. Os parques do passado e os do presente são unidos por uma característica comum: sua importância como símbolos de nossa capacidade de criar, implantar e manter figuras urbanas tão valiosas e tão frágeis sob a ação do tempo.

Entre os parques urbanos mais emblemáticos pode-se destacar o Parque do Ibirapuera e o Parque do Aterro do Flamengo.

As inaugurações desses dois parques em 1954 (Ibirapuera) e 1962 (Flamengo), apesar do caráter isolado, marcam a ruptura definitiva com a estrutura do velho desenho romântico de paisagismo, ainda bastante em voga na época. O Aterro do Flamengo, projetado por Afonso Reidy, Burle Marx e equipe, possui desenho com inovações que buscam e conseguem dar uma adequação aos usos cotidianos da metrópole do Rio de Janeiro, então em processo de acelerada modificação urbana, foi planejado para conter e envolver a nova via expressa que ligava a zona sul (Copacabana, em especial) ao centro da cidade, o Aterro do Flamengo é um grande Parque linear unindo vários aterros antigos na orla, é uma obra que comporta toda uma série de jogos, museus, marina e até uma praia artificial, elementos que foram rapidamente assimilados pela população, utilizados noite e dia, Figura 01. O Parque do Ibirapuera, cujo desenho florestal urbano é de concepção de Otávio Augusto Teixeira Mendes, era uma área alagadiça, foi estruturado no meio de um bosque de eucaliptos, com uma série de pavilhões de exposição que, na época de sua inauguração, atraiam um grande público para as festividades em curso. Esse parque possuía um programa de uso que atendia ao lazer cultural (museus e exposições), esportivo (quadras, tanques para modelismo de barcos) e contemplativo, Figura 02 (MACEDO & SAKATA, 2002).


Figura 01. Marina localizada no Aterro do Flamengo, envolvida de espaços verdes. Crédito: QUAPÄ.

O Parque do Ibirapuera pela sua localização, ao lado de áreas habitadas pelas elites – os bairros Jardim América e Jardim Paulista -, o significado simbólico que lhe foi atribuído, sua centralidade e acesso transformaram-no em principal parque da cidade, capaz de atrair milhares de usuários todos os dias, tanto para caminhar e correr como para o descanso, os shows ao ar livre e as exposições (MACEDO E SAKATA, 2003).

A vegetação arbórea pode ser entendida como um mobiliário urbano, um equipamento essencial para o bom funcionamento dos espaços livres de edificação.

A tipologia é uma forma de analisar o espaço livre de edificação e pressupõe o conhecimento de sua identidade, estrutura e significação e a imaginabilidade definida como sendo a qualidade do objeto físico que lhe confere uma grande probabilidade de suscitar uma imagem vigorosa em qualquer observador, a estrutura é a conformadora da imagem através da relação espacial entre o espaço livre e seu entorno, integrando ambos em um conjunto único e, por fim, a significação que é um atributo de valor simbólico para o observador, transformando o espaço livre, o parque, a praça, a rua ou a árvore em um espaço reconhecível e representativo para os habitantes da cidade (ANGELIS & ANGELIS NETO, 2000).


Figura 02. Parque do Ibirapuera, foto aérea mostrando trecho do parque, áreas verdes livres
e prédios e entorno dominado por bairro de alto padrão, extraído de (PMSP, 2003)

Inventário da arborização viária

Muitas análises, da vegetação arbórea viária, em municípios foram efetuadas a partir de inventários por amostragem devido ao grande número de indivíduos arbóreos presentes, o tamanho das cidades e a necessidade de contenção de custos, como mostram os trabalhos de BIONDI (1985); MILANO (1985); GRAZIANO et al (1987); MILANO et al (1987); (MARTINS et al 1992); LIMA (1993); SANTOS (1997); (MICHI & COUTO, 1996) e (COSTA & HIGUCHI, 1999).

Para planejar a arborização de Penápolis, SP; PAIVA et al (1997) optaram por inventariar 895.000 m2 da área central da cidade.

Todos os trabalhos possuíam como variável principal a quantidade de árvores por distância de calçada, caracterizando a densidade da arborização nas vias públicas. Esta variável é essencial já que é a maior necessidade em se tratando de vias públicas, no atual contexto da arborização brasileira.

TAKAHASHI (1992) elaborou banco de dados para o cadastro total das árvores de Maringá/PR e salientou sua importância para o manejo da arborização urbana.

Através de um cadastro pode-se vislumbrar alternativas de manejo especificas, observando-se uma unidade de manejo semelhante ao talhão da silvicultura tradicional, esta unidade pode ser o bairro ou no caso de grandes avenidas, a própria avenida.

Técnicas de Avaliação de Áreas Florestais Urbanas

Sensoriamento remoto

Recentemente foram elaborados muitos trabalhos, principalmente norte-americanos, utilizando sensoriamento remoto e ou sistemas de informação geográfica para o inventário e manejo de áreas verdes. A grande vantagem dessas tecnologias é obter dados visuais e poder relacionar os mais variados dados espaciais, de diferentes gêneros, com dados alfanuméricos, obtendo respostas integradas para problemas urbanos e rurais, de maneira rápida e econômica, proporcionando uma experiência de conhecimento holístico sobre as áreas avaliadas, Figura 03.


Figura 03. Bairro Vila Resende , Piracicaba – SP, pode-se ver na imagem o espectro
infravermelho próximo destacando as áreas constituintes da floresta urbana.
Crédito: Laboratório de Métodos Quantitativos – LCF/ESALQ/USP.

A videografia aérea é uma técnica de sensoriamento remoto que vem sendo utilizada nos EUA para avaliação, detecção de problemas na agricultura, agricultura de precisão e no manejo de áreas naturais (POMPERMAYER NETO, 2002).

Para a Silvicultura Urbana esse sistema nunca foi utilizado no Brasil, constituindo-se um grande potencial de pesquisa na avaliação de florestas urbanas apresentando-se como alternativa econômica para avaliação de áreas extensas.

O mesmo autor apresentou revisão sobre videografia descrevendo o início dos primeiros testes nas décadas de sessenta e setenta e os principais avanços obtidos na década de oitenta com os primeiros estudos envolvendo câmeras de vídeo com sensibilidade para captar a faixa do espectro eletromagnético referente ao infravermelho próximo (0,7 até 1,1 nm).

Nos últimos anos segundo El Hakim, citado por POMPERMAYER NETO (2002), a utilização de sistemas de imagens de vídeo, ou videografia, para a avaliação dos recursos naturais tem aumentado devido ao desenvolvimento de novas tecnologias aplicadas às câmeras como o CCD (“Charge Coupled Device”) em substituição ao sistema de tubo, que proporciona, maior resolução espacial e compatibilidade com sistemas digitais.

WATZLAWICK et al (2001) apresentou metodologia para utilização de câmaras de vídeo em mapeamento florestal. O método consistiu da utilização de câmaras de vídeo convencionais e filtros espectrais (verde, vermelho e infravermelho próximo) como sensor não convencional. Como resultados, salientou a importância da obtenção das imagens quase que em tempo real, custos operacionais baixos, praticidade e operacionalidade do sistema bem como a agilidade de obtenção das imagens. Como aspectos negativos salientou a baixa resolução das câmaras e a sobreposição de filtros apresentando como solução a utilização de câmaras S-VHS e filtros espectrais dos mais diversos comprimentos de onda.

Sistemas de informação geográfica

Para MARTINS, (1994), segundo autores da área, o “Geoprocessamento pode ser definido como o conjunto de tecnologias de coleta e tratamento de informações espaciais e de desenvolvimento, e uso, de sistemas que as utilizam. As áreas que se servem das tecnologias de Geoprocessamento têm, em comum, o interesse por entes de expressão espacial, sua localização, ou distribuição espacial de seus atributos”.

Em URBAN FORESTRY DATABASE LIBRARY (2002) encontrou-se vinte e cinco trabalhos sobre geoprocessamento em Silvicultura Urbana, salientando a necessidade do uso ferramenta para o manejo e avaliação das áreas verdes e árvores urbanas.

Segundo GODFREY (2001), existem muitas vantagens em cadastrar os dados das árvores urbanas em banco de dados georreferenciados e poder consultá-los em programa de geoprocessamento, entre as muitas vantagens cita:
- o mapeamento das áreas e árvores permite consultas visuais rápidas;
- é mais fácil encontrar a localização de uma árvore quando ela está representada em um mapa para indicar sua localização;
- os dados da população arbórea podem ser consultados e representados no mapa e qualquer relacionamento entre árvores e outras informações podem ser consultados e visualizados ao mesmo tempo. Por exemplo, pode-se “perguntar”, por meio de uma consulta, quais as árvores apresentam podridão no tronco e estão localizadas em calçadas com menos de dois metros de largura e imediatamente o programa de geoprocessamento mostrará o resultado da consulta destacando, com uma cor, todos os pontos da cidade onde existe tal situação.

MARTINS (1994), FREIRE et al (1994), ADAM et al (2001) e CÂMARA & MONTEIRO (2000) descreveram a utilização da geoinformação para inventário de espécies arbóreas e outras finalidades ambientais para as cidades de Belo Horizonte/MG, Recife/PE, Florianópolis/SC e São Sebastião/SP, respectivamente, Figura 04.

ADAM et al (2001) ressaltam que o custo de implantação de um sistema de gerenciamento e controle informatizado é imensamente menor que o custo futuro de modificação dos espaços públicos devido à falta de planejamento. Entendeu-se também que mesmo realizando-se um grande trabalho de campo, com cadastro da vegetação das praças e áreas públicas e os resultados dispostos em tabelas em papel guardadas em arquivos de armário, estes resultados, em alguns anos estariam obsoletos e poucos saberiam como estão as espécies vegetais e o real estado de conservação das praças, pois a atualização e manipulação destes arquivos seria difícil e demorada, justificando a implantação da geoinformação.


Figura 04. Sistema de Informações Geográficas do Município
de São Sebastião, (CÂMARA & MONTEIRO, 2000).

MARTINS (1994) ressalta que o mapeamento digital de toda a área urbana de Belo Horizonte/MG foi implementada com base em fotografias aéreas, obtidas através de vôo programado. Essas informações foram separadas em diversos níveis (limites das regionais e bairros, logradouros, quadras, rede de água, esgoto, elétrica, curvas de nível, etc). Neste mapeamento foram localizadas todas as árvores dos logradouros públicos, assim como as áreas verdes, praças e parques. Assim para qualquer árvore do mapeamento poderá ser retornada a ficha contendo os dados do seu cadastro instantaneamente. Além disso, várias manipulações estarão disponíveis como o cruzamento dos mais variados tipos de dados (árvores e rede elétrica, rede de água e de esgoto, curvas de nível ou declividade, etc) a cada árvore mapeada será associado o cadastro feito e vice-versa.

Na Silvicultura Urbana existem trabalhos de levantamento utilizando sensoriamento remoto e sistemas de informação geográfica para o inventário de áreas verdes públicas e particulares, arborização viária e diagnósticos de ilhas de calor em áreas densamente ocupadas como demonstram os trabalhos de (MILLER, 1997), (GODFREY, 2001), (SACAMANO et al 1995) e (LO et al 1997). Esse último fez vôos noturnos para caracterizar as ilhas de calor na cidade de Huntsville no estado do Alabama, Estados Unidos, utilizando imagens de infravermelho térmico de alta definição.

Considerações Finais

Segundo SANTOS (1996), a valorização das árvores urbanas será tanto maior quanto mais reconhecida sua importância enfatizando que o desafio futuro de quem trabalha com árvores de cidades reside na busca constante do conhecimento que leve a compreensão de todas as implicações relativas à presença da árvore no ecossistema urbano e em como avaliar seus benefícios tangíveis intangíveis.

Esses aspectos transformam a profissão do Engenheiro Florestal, trazendo oportunidades multidisciplinares novas em campo profissional ainda pouco explorado. Pode-se imaginar que, em futuro próximo, as administrações públicas municipais poderão possuir, dentro de seu corpo técnico, silvicultores urbanos especializados na gestão ambiental urbana, utilizando como instrumento uma percepção holística do desenho florestal urbano que poderá surgir desde a compreensão do sentimento pela paisagem, a topofilia, até a pratica na utilização de sistemas de informação espaciais e sensoriamento remoto para avaliar e planejar o uso do ecossistema florestal urbano.

Bibliografia

ADAM, E., GUEDES JÚNIOR, A. & HOCHHEIM, N. Geoprocessamento para o inventário das espécies arbóreas na região de Florianópolis. GISBRASIL 2001, Curitiba. Anais… Curitiba: Fator GIS, 2001. (CD-ROM)

ANGELIS, B.L.D. de & ANGELIS NETO, G. de. Da jardinagem ao paisagismo: Um passeio pela história das praças. Jaboticabal, 2001, 52p.

ANGELIS, B.L.D. de & ANGELIS NETO, G. de. Os elementos de desenho das praças de Maringá-PR. Acta Scientiarum, v.22(5), p.1445-1454, 2000.

BIONDI, D. Diagnóstico da Arborização de ruas da cidade do Recife/PE. In: ENCONTRO NACIONAL SOBRE ARBORIZAÇÃO URBANA, 1, 1985, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre: SMMA, 1985. p. 87-88.

CÂMARA, G., & MONTEIRO, A.M. Geotecnologias em um novo paradigma de desenvolvimento. Seminário sobre indicadores de sustentabilidade. NEPO/UNICAMP, 2000, 25p.

COSTA, L.A. da & HIGUCHI, N. Arborização de ruas de Manaus: Avaliação qualitativa e quantitativa. Revista Árvore, v. 23, n.2, p.223-232, 1999.

COUTO, H.T.Z. Métodos de amostragem para avaliação de árvores de ruas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ARBORIZAÇÃO URBANA, 2, 1994, São Luis. Anais... São Luis/MA: SBAU, 1994. p.169-179.

FREIRE, F.J., LIMA, R.F., SILVA, C.P. da & LEITE, A.C.M.P. Cadastramento das árvores públicas da cidade do Recife utilizando o sistema de informações geográficas (GIS). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ARBORIZAÇÃO URBANA, 2, 1994, São Luis. Anais... São Luis/MA: SBAU, 1994. p.431-436.

GODFREY, C.G. GIS and GPS in Urban Forestry. City Trees, v.37(3), p.14-16, 2001.

GRAZIANO, T.T., CASTIGLIONI, F.M. & VASQUES, L.H., Caracterização e análise da arborização das ruas do município de Jaboticabal, SP. Jaboticabal: UNESP-FCAV, 1987. 12p.

IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, (Internet: http://www.ibge.hpg.gov.br, 08/12/2002).

LIMA, A.M.L.P. Piracicaba/SP: Análise da arborização viária na área central e em seu entorno. Piracicaba, Escola Superior de Agronomia “Luiz de Queiroz”, USP, 1993. 238 p. (Tese de Doutorado) USP – ESALQ.

LO, C.P., QUATTROCHI, D.A., & LUVALL, J.C., Application of high-resolution thermal infrared remote sensing and GIS to assess the urban heat island effect. International Journal of Remote Sensing 18(2), Abstract, 1997. (Internet:http://www.urban-forestry.com/, 10/12/2002)

MACEDO, S.S. Espaços livres. Paisagem e Ambiente ensaios, São Paulo. n. 7, p. 15 -56, 1995.

MACEDO, S.S. & SAKATA, F.G. Parques Urbanos no Brasil. São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 2002. 208 p.

MARTINS, S.V., PAIVA, H.N., SOARES, C.P.B. & JACOVINE, L.A.G. Avaliação quali-quantitativa da arborização de ruas de Viçosa, MG. In: CONGRESSO BRASILEIRO SOBRE ARBORIZAÇÃO URBANA, 1, 1992, Vitória. Anais...Vitória: PMV/SMMA, 1992. p.317-326.

MARTINS, S.V. Monitoramento da arborização de ruas de Belo Horizonte. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ARBORIZAÇÃO URBANA, 2, 1994, São Luis. Anais... São Luis/MA: SBAU, 1994. p.421-430.

MICHI, S.M.P. & COUTO, H.T.Z. Estudos de dois métodos de amostragem de árvores de rua na cidade de Piracicaba – SP. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ARBORIZAÇÃO URBANA, 3, 1996, Salvador. Anais... Salvador: SBAU/COELBA, 1996. p. 89-96.

MILANO, M.S. Avaliação e análise da arborização de ruas de Curitiba/PR. In: ENCONTRO NACIONAL SOBRE ARBORIZAÇÃO URBANA, 1, 1985, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre: SMMA, 1985. p. 83-86.

MILANO, M.S. SOUZA, R.C.M. & SERAFIM, D.C. Análise quali-quantitativa da arborização de ruas de Céu Azul. In: ENCONTRO NACIONAL SOBRE ARBORIZAÇÃO URBANA, 2, 1987, Maringá. Anais... Maringá: P.M..M, 1987. p. 156-160.

MILANO, M.S. & DALCIN, E.C. Arborização de vias públicas. Rio de Janeiro, RJ: Light, 2000. 226p.

MILLER, R.W. Urban Forestry: Planning and Managing Urban Greenspaces. 2nd ed. New Jersey, Prentice Hall, 1997. 502p.

NOWAK, J.N., NOBLE, M.H., SISINNI, S.M. & DWYER, J.F. Peole & Trees: Assessing the US Urban Forest Resourse. Journal of Forestry, v.99, n.3, p.37-42, 2001.

PEGOLO, L.C.N.C & DEMATTÊ, M.E.S.P. Estudo sobre as principais praças de Jaboticabal e Taquaritinga (SP). Holos Environment, Rio Claro, v.2(1), 2002. (CD Rom).

POMPERMAYER NETO, P. Utilização da videografía na detecção de áreas com deficiências nutricionais em plantios de Eucalipto. Piracicaba, 2002. 75p. Dissertação (Mestrado) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo.

SACAMANO, P.L., MCPHERSON, E.G., MYHRE, J., STANKOVICH, M. & WEIH, R.C... Describing urban forest cover: an evaluation of airborne videography. Journal of Forestry, v.93, p.43-48, 1995.

SANTOS, E. dos. Avaliação monetária de árvores urbanas: uma revisão. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ARBORIZAÇÃO URBANA, 3, 1996, Salvador. Anais... Salvador: SBAU/COELBA, 1996. p. 140-150.

SANTOS, M. Avaliação quali-quantitativa da arborização em implantação na cidade de Alfenas, MG. In: ENCONTRO NACIONAL SOBRE ARBORIZAÇÃO URBANA, 7, 1997, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: CEMIG, 1997. p. 49.

TAKAHASHI, L.Y. Sistema informatizado de manejo da arborização de ruas. In CONGRESSO BRASILEIRO SOBRE ARBORIZAÇÃO URBANA, 1, 1992, Vitória. Anais... Vitória: PMV/SMMA, 1992. p. 281-290.

URBAN FORESTRY DATABASE LIBRARY. (Internet: http://www.urban-forestry.com/, 10/12/2002)

WATZLAWICK, L.F., MADRUGA, P.R.A .& PEREIRA, R.S. Metodologia para utilização de câmaras de vídeo em mapeamento florestal. Ciência Florestal, Santa Maria, v.11, n.2, p.27-39, 2001.


Nenhum comentário: