Fonte: Portal EcoDebate
Tecnologias de sequestro de carbono, como uma das soluções para a diminuição do aquecimento global, não faltam. O problema é que, no Brasil, elas ainda estão sendo desenvolvidas em escala de laboratório e restritas às universidades e aos centros de pesquisa. Para viabilizá-las no País, será preciso conseguir reproduzi-las em maior escala e torná-las economicamente viáveis. “Isso dependerá de convencer grandes empresas, como as dos setores de petróleo, gás e mineração, a investir nelas”, afirma o pesquisador visitante do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA/USP), Luiz Gylvan Meira Filho.
“O que está faltando é grandes empresas se interessarem por esses experimentos, fazê-los em grande escala e baixarem o custo deles, pois essas tecnologias não serão desenvolvidas com recursos de agências de financiamento à pesquisa”, alerta ele, que abordará esse assunto em uma conferência que fará durante a 61ª Reunião Anual da SBPC – evento que a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) realiza de 12 a 17 de julho em Manaus (AM).
Meira Filho, um astro-geofísico engajado na questão da mudança climática, sabe do que está falando. Foi vice-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, em inglês) e presidente dos grupos de negociação dos artigos 3 – sobre metas de redução de emissões dos países industrializados – e 12 – o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) –, do Protocolo de Quioto.
O especialista é um entusiasta das tecnologias para capturar por vias naturais ou artificiais o dióxido de carbono (o grande vilão do aquecimento global) da atmosfera terrestre e armazená-lo em um local seguro, onde ele permaneça “preso”. “Hoje, isso é possível fazer isso transferindo-o da atmosfera para a biosfera por sequestro por biomassa; para a hidrosfera, por sequestro oceânico, ou para a litosfera, por seqüestro geológico.”
Os desafios de cada uma – A via mais simples e tradicional, a da biomassa, que consiste no plantio de árvores para a criação de florestas, é limitada, na sua avaliação. Apesar de ser uma tecnologia interessante do ponto de vista ambiental, na medida em que o gás é capturado por meio da fotossíntese, ela depende da disponibilidade de terra, que não pode ser qualquer uma. “Isso tem que ser feito em um lugar onde se tem chance das árvores permanecerem lá, como em áreas de preservação permanente ou plantações comerciais”, ressalva.
Outra alternativa é por intermédio do sequestro oceânico, que ocorre naturalmente nos oceanos, em que se transfere o dióxido de carbono para a hidrosfera. Pelo processo biológico tradicional, os fitoplânctons e outros organismos marinhos, da mesma forma que as árvores, realizam a fotossíntese e convertem o carbono em moléculas orgânicas e, eventualmente, em carbonato de cálcio – a calcária -, para formar seus esqueletos. Mas, de acordo com o especialista, esse processo pode ser acelerado pela fertilização do oceano com sais de ferro, em que se adiciona sulfato ferroso nas águas para aumentar o crescimento de fitoplânctons e acelerar o mecanismo de fixação do dióxido de carbono nelas pela atividade fotossintética desses organismos.
“Atualmente estão tentando acelerar esse processo de fertilização de oceanos, que está em fase de testes. Mas tudo isso já foi feito em escala experimental. Agora, é necessário verificar se essa tecnologia pode ser utilizada em grande escala, acompanhar o destino do carbono e ter um custo possível de ser arcado”, pondera Filho.
Já por meio do armazenamento geológico o dióxido de carbono é enterrado em poços de petróleo, gás ou aquíferos salinos – reservatórios subterrâneos de alta salinidade – de forma a devolvê-lo para o subsolo terrestre. Mas um dos maiores desafios para tornar o processo viável é diminuir os custos para separação do dióxido de carbono do restante do ar em terra, dado que injetá-lo em poços de petróleo ou gás é tecnicamente mais fácil. “O pessoal da Petrobras acha que isso não é muito difícil. Eles já fazem isso com facilidade e baixo custo”, afirma o pesquisador.
Para Meira Filho, os cientistas brasileiros ainda estão mais preocupados em medir o impacto do aquecimento global do que buscar soluções. “De qualquer forma, as soluções não serão alcançadas sem o esforço conjunto de cientistas e empresas”, finaliza ele.
Serviço: A palestra do astro-geofísico Luiz Gylvan Meira Filho será realizada no próximo dia 15 de julho, às 10h30, durante a 61ª Reunião Anual da SBPC. O evento, cujo tema é “Amazônia: Ciência e Cultura”, será realizado a partir do dia 12 em Manaus (AM), no campus da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Contará com 175 atividades, entre conferências, simpósios, mesas-redondas, grupos de trabalho, encontros e sessões especiais, além de apresentação de trabalhos científicos e minicursos. Veja a programação em www.sbpcnet.org.br/manaus.