terça-feira, 14 de julho de 2009

Base de dados GeoAtlântica: A Mata Atlântica como você nunca viu



Gustavo Faleiros, O Eco.
10/07/2009

Nos domínios da Mata Atlântica estão concentradas as maiores cidades e as principais atividades econômicas do país. Isso, no entanto, não significa que uma empresa pensando em investir nesta gigantesca área encontre com facilidade informações para planejar o empreendimento. Buscando preencher lacunas de informação, foi lançado nesta sexta (10) o GeoAtlântica, uma das mais completas bases de dados já feitas sobre a ameaçada floresta.

A ferramenta foi elaborada pelo Instituto BioAtlântica, organização não-governamental que tem entre seus fundadores companhias do setor papel e celulose, como a Aracruz e Veracel, além da Petrobras. O GeoAtlântica foi organizado como um mapa interativo na internet que congrega inventários mais recentes sobre a cobertura por unidades de conservação, remanescentes florestais e dados sócio-econômicos do bioma. As informações estão dividas entre quatro corredores de ações de conservação: Serra do Mar, Central da Mata Atlântica, do Vale do rio Doce e Costeiro Marinho (veja mapa dos corredores acima).

“Imaginamos que os dados vão funcionar como suporte à tomada de decisão”, diz o diretor do Intituto BioAtlântica, Beto Mesquita. Sua expectativa é que a ferramenta seja usada por empresas, ONGs e administradores públicos. Para ilustrar, ele dá o exemplo de um empreendedor que gostaria de investir em uma cidade no interior do Rio de Janeiro e precisa saber a situação que encontrará durante o licenciamento ambiental . “No GeoAtlântica, ele conseguirá de forma rápida uma série de informações sobre a existência ou não de unidades de conservação municipais naquela área e as condições das prefeituras de analisarem estudos de impacto ambiental”, explicou.

A Petrobras está entre as empresas que adotarão o sistema em seu planejamento. Segundo o gerente de Desempenho em Segurança e Meio Ambiente, Luis Cesar Stano, a estatal sempre viu a ferramenta com bastante interesse, pois boa parte de suas operações está nas áreas de mata e costa atlântica. “O fato de reunir informações de várias fontes torna a ferramenta muito útil. Se nossos técnicos fossem coletar todas estas informações, haveria perda de tempo e também um custo”, pondera Stano.

O gerente da estatal diz que, além da aplicação direta em negócios da empresa, como no planejamento de dutos, o GeoAtlântica ajudará no desenho dos patrocínios a projetos ambientais. Com isso poderia-se evitar a sobreposição de projetos já existentes ou priorizar a escolha de regiões mais carentes de recursos. Perguntado se a nova ferramenta vai ter papel estratégico nos investimentos da Petrobras na camada do pré-sal, Stano afirma que ainda é cedo para dizer. “Não há ainda muitos dados sobre o corredor marinho e eles são os mais difíceis de se obter”, explica.

De olho nas atualizações

Com o lançamento nesta sexta, as bases de dados mais completas do GeoAtlântica são as do Corredor Central da Mata Atlântica e o da Serra do Mar. Nelas, além das relações de áreas protegidas nos níveis federal, estadual e municipal, as fisionomias vegetais e os dados sócio-econômicos, há informações primárias, coletadas em campo. No caso do Corredor Central, há os resultados de pesquisa feito pelo Bioatlântica sobre rede de viveiros florestais e pontos de captação de água.

De acordo com Beto Mesquita, o próximo passo da ferramenta será chegar a este mesmo nível de detalhes para os outros corredores da Mata Atlântica. Para tornar o sistema mais robusto haverá uma atualização constante. Neste ponto, os parceiros do Instituto Bioatlântica vão desempenhar papel-chave, pois serão eles os responsáveis por inserir mais informações na mapa acessível pela internet. O benefício desta política será uma maior transparência e diálogo na relação empresas e sociedade civil. Mesquita cita o caso das empresas de papel e celulose: elas poderão constantemente prover dados sobre a manutenção das reservas legais ou a expansão dos plantios comerciais.

“No GeoAtlântica já há dados que não se encontram nem mesmo no site das empresas”, conta. Portanto, é possível que a ferramenta ganhe as feições de um sistema de monitoramento de fácil acesso ao grande público.

Os criadores da base de dados esperam também que as organizações não governamentais usem o sistema para planejarem suas ações de restauração florestal. Uma visão geral dos corredores com seus remanescentes e áreas prioritárias para conservação facilitaria uma ação para conectar os fragmentos. Um dos parceiros do projeto, a não-governamental The Nature Conservancy (TNC) espera, por exemplo, que o GeoAtlântica ajude a desenhar projetos de recuperação florestal ligados ao mercado de carbono.

Segundo Miguel Calmon, da TNC, tornar-se-á mais fácil mostrar a um potencial comprador de créditos as informações sobre o projeto e, principalmente, os resultados. “Acho que vai se tornar um instrumento de divulgação também, para engajar atores de todos os níveis: poder público, proprietários e outras organizações que, às vezes, estão fazendo trabalhos semelhantes no mesmo território”, ressalta.

Trabalho de três anos

A montagem do GeoAtlântica levou três anos, nos quais o primeiro passo foi o árduo trabalho de coletar os dados. Depois veio a dificuldade de criar parâmetros para que eles pudessem se tornar acessíveis na base hoje vista na internet. Para o coordenador técnico do projeto, Edson Santiami. O desafio foi criar um sistema que possa ser usado de forma simples tanto por tomadores de decisão como pelo público em geral. “Quando começamos a pensar a ferramenta, achávamos que iríamos disponibilizar informações apenas para os parceiros, mas logo vimos que seria importante ser uma fonte aberta a todos”, conta.

Nesta primeira etapa, o GeoAtlântica teve um investimento de 150 mil dólares. O apoio saiu da Petrobras e das ongs The Nature Conservancy e Conservação Internacional. Na próxima semana, um grupo de técnicos da Petrobras terá o primeiro seminário sobre o sistema. Santiami explica que também o Instituto Bioatlântica, que será o gestor do sistema, está criando cadastro de responsáveis nas empresas para que elas passem já a inserir novos dados no mapa.

Calmon, da TNC, acha que quando o sistema estiver de fato ativo, ou seja quando as atualizações estiverem a todo vapor, o diálogo entre poder público, sociedade civil e empresas vai se fortalecer. “Na verdade o diálogo já existe, porque para ter um sistema tão aberto, com tantas informações de todas as partes, houve uma processo de construção de confiança”, diz.

Clique aqui para acessar e conhecer o GeoAtlântica:

www.bioatlantica.org.br/geoatlantica

domingo, 12 de julho de 2009

Canção do dia: Panorama Ecológico (Erasmo Carlos)

Lá vem a temporada de flores
Trazendo begônias aflitas
Petúnias cansadas
Rosas malditas
Prímulas despetaladas
Margaridas sem miolo
Sempre-vivas quase mortas
E cravinas tortas
Odoratas com defeitos
E homens perfeitos
Lá vem a temporada de pássaros
Trazendo águias rasteiras
Graúnas malvadas
Pombas guerreiras
Canários pelados
Andorinhas de rapina
Sanhaços morgados
E pardais viciados
Curiós desafinados
E homens imaculados
Lá vem a temporada de peixes
Trazendo garoupas suadas
Piranhas dormentes
Sardinhas inchadas
Trutas desiludidas
Tainhas abrutalhadas
Baleias entupidas
E lagostas afogadas
Barracudas deprimentes
E homens inteligentes

12 de Julho - Dia Nacional do Engenheiro Florestal - Mensagem da SBEF

Em 12 de julho de 1073, aos 78 anos, faleceu João Gualberto. Monge Beneditino, dedicado à silvicultura, que reflorestou os vales de Valombrosa na Itália. Esta data é o Dia de São João Gualberto, reconhecido como o santo defensor das florestas e protetor dos Engenheiros Florestais. Aqui, no dia de nosso padroeiro, comemoramos o Dia Nacional do Engenheiro Florestal, profissional apto a avaliar o potencial biológico dos ecossistemas florestais, para planejar e organizar o seu aproveitamento racional, de forma sustentável, garantindo a manutenção e perpetuação das formas de vida animal e vegetal.

Esta aptidão se deve a uma formação coerente com uma seqüência de disciplinas teóricas, práticas, de campo e laboratórios, que possibilitam uma profissionalização nas áreas de manejo florestal, ecologia aplicada e tecnologia de produtos florestais, propiciando uma formação que abrange os aspectos ambientais, sociais e econômicos. Em uma sociedade com demandas crescentes de produtos de origem florestal, o papel do Engenheiro Florestal é de fundamental importância técnica e estratégica, considerando que o Brasil possui cerca de 30% das florestas tropicais do mundo e plantações florestais de altíssima produtividade.

No Brasil, a criação do primeiro curso de Engenharia Florestal deu-se em 1960, em Viçosa - MG. O principal objetivo era o de conferir sustentabilidade à utilização dos recursos florestais, atuando na produção florestal, na preservação de áreas ambientalmente estratégicas e na recuperação de terrenos degradados, além da geração de tecnologias voltadas para estes fins, bem como para o processamento e beneficiamento dos produtos florestais. Em 1964 a escola foi transferida para Curitiba - PR, e neste mesmo ano ocorreu a formatura da primeira turma de Engenheiros Florestais brasileiros.

Hoje contamos com 58 cursos de graduação, e algo em torno de 13 mil profissionais formados no Brasil. Neste 12 de julho, Dia Nacional do Engenheiro Florestal, comemoraremos todo o avanço tecnológico alcançado pela Engenharia Florestal Brasileira nestes 49 anos, tornando-se uma referência mundial. Sempre buscando alternativas sustentáveis para o desenvolvimento de nossa nação, aliando a preservação ambiental e a qualidade de vida, à geração de empregos e renda para o nosso povo.

Os produtos florestais estão no cotidiano de todos nós. Na lenha que abastece o forno na padaria da esquina, nos móveis e na construção de nossa casa, na castanha, no açaí, na industria química e farmacêutica, na siderurgia, no caderno dos nossos filhos, nos diversos tipos de papel que utilizamos todos os dias de nossas vidas, e no carvão daquele churrasquinho do final de semana... Entretanto, a classe ainda busca o respectivo reconhecimento da sociedade, e a criação de políticas públicas que atendam às necessidades da atividade florestal, responsável por aproximadamente 5% do PIB nacional.

Através das 35 entidades de classe filiadas à Sociedade Brasileira de Engenheiros Florestais - SBEF, temos trabalhado muito pela organização de nossa categoria. Mas é preciso um esforço conjunto. O cidadão, como consumidor de produtos e serviços, deve sempre certificar-se sobre a origem da matéria-prima e conhecer os processos de fabricação. Deve exigir das empresas e do poder público, que estas atividades tenham sempre a responsabilidade técnica de um profissional habilitado, com conhecimento técnico-científico capaz de atender as demandas da sociedade, garantindo a conservação dos recursos naturais e a qualidade ambiental. Seja na produção, seja na gestão de áreas verdes, na arborização urbana, nos reflorestamentos, no manejo das bacias hidrográficas...

De nossa parte, continuaremos sempre trabalhando pelo desenvolvimento da Ciência Florestal, pela formação ética e responsável, pela capacitação e atualização de nossos profissionais, e por uma efetiva fiscalização do exercício profissional, garantindo assim a qualidade dos serviços prestados à sociedade, ao meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável de nosso país.

Exija sempre um Engenheiro Florestal. As nossas florestas agradecem.

Eng.º Florestal Glauber Pinheiro - Presidente da SBEF


sábado, 11 de julho de 2009

Trabalho técnico sobre arborização e florestas urbanas


Caros,

este artigo é do professor Luís Mauro, da UFRRJ, e faz uma pequena discussão relativa ao que são florestas urbanas e sua distinção - e similaridades - em relação a outros tipos de cobertura arbórea urbana. É simples e didático.

Baixe o artigo aqui.

Direto do site do IPEF - o que são Florestas Urbanas

Silvicultura Urbana - O Desenho Florestal da Cidade

Prof. Demóstenes Ferreira da Silva Filho
Professor Assistente do Departamento de Ciências Florestais da ESALQ/USP
E-mail: dfsilva@esalq.usp.br
Atualizado em 01/04/2003

Introdução e Definições

Desde a antiguidade a árvore, como imagem mítica, foi utilizada como símbolo do crescimento espiritual do ser humano. Existe entre o ser humano e as árvores uma afinidade estrutural psíquica, intimamente associada ao crescimento e realização de potenciais. A árvore adulta já está contida na semente. O ser humano também carrega em estado germinal, no fundo do inconsciente, aquilo que poderá vir a ser (MILANO & DALCIN, 2000).

As cidades, hoje, já abrigam mais ou menos a metade da população do planeta e, em vários países, entre os quais o Brasil, mais de 80% da população (IBGE, 2002).

Tanto por este motivo, a concentração populacional, quanto pela forma como surgem, crescem e são organizadas, as cidades tornam-se também, de maneira geral, os extremos da ação humana nos sistemas naturais (MILANO & DALCIN, 2000).

As florestas urbanas podem ser definidas como a soma de toda a vegetação lenhosa que circunda e envolve os aglomerados urbanos desde pequenas comunidades rurais até grandes regiões metropolitanas (MILLER, 1997).

As florestas urbanas são ecossistemas compostos pela interação entre sistemas naturais e sistemas antropogênicos (NOWAK et al 2001).

As árvores de ruas, praças, parques, áreas de conservação urbanas e demais áreas livres de edificação, fazem parte de um ramo da Silvicultura que se chama Silvicultura Urbana.

O objetivo da Silvicultura Urbana é o cultivo e o manejo de árvores para a contribuição atual e potencial ao bem estar fisiológico, social e econômico da sociedade urbana (COUTO, 1994).

As árvores em vias públicas e demais áreas livres de edificação são constituintes da floresta urbana, atuam sobre o conforto humano no ambiente, por meio das características naturais da vegetação arbórea, proporcionando sombra para pedestres e veículos, redução da poluição sonora, melhoria da qualidade do ar, redução da amplitude térmica, abrigo para pássaros e harmonia estética amenizando a diferença entre a escala humana e outros componentes arquitetônicos como prédios, muros e grandes avenidas.

Segundo MILANO & DALCIN (2000), existem aspectos positivos das árvores nas cidades os quais podem ser mensurados, avaliados e monitorados, caracterizando benefícios e, conseqüentemente, objetivos que passam a ser estabelecidos no planejamento:
- estabilização e melhoria microclimática;
- redução da poluição atmosférica;
- diminuição da poluição sonora;
- melhoria estética das cidades;
- ação sobre a saúde humana;
- benefícios sociais, econômicos e políticos.

Pode-se citar também a absorção da radiação ultravioleta, dióxido de carbono e a redução do impacto da água de chuva e seu escorrimento superficial.

O objetivo desse texto é apresentar a Silvicultura Urbana como ferramenta e meio de atuação profissional do Engenheiro Florestal, na obtenção da melhoria da qualidade de vida nas cidades, através do estudo dos espaços livres urbanos e avaliação do seu potencial para serem planejados como integrantes da floresta urbana.

O Desenvolvimento Urbano e as Áreas Verdes

Segundo MACEDO (1995) o espaço livre de edificação, como elemento de projeto é praticamente desconhecido pelos profissionais e pela população, que o vêem como um espaço residual a ser ajardinado ou simplesmente deixado de lado.

MILANO & DALCIN (2000) citam o surgimento da luz elétrica e a expansão da oferta dos serviços de abastecimento de água, coleta de esgoto e telecomunicações, trazendo para as cidades como o Rio de Janeiro, um complexo sistema de cabos, galerias e dutos que tomam conta do ar e do subsolo. A rede aérea de energia passou a interferir de forma decisiva no plano de arborização da cidade. Na seqüência, com o advento da era “desenvolvimentista” e da explosão imobiliária na década de 60 houve a perda dos jardins privados e a impermeabilização do solo e o patrimônio das áreas verdes das cidades ficaram cada vez mais restritos à arborização de ruas, praças, parques e maciços florestais.

Pode-se acrescentar ainda a compactação e baixa fertilidade do solo resultantes dos processos de movimentação de terra para urbanização de loteamentos. De maneira semelhante, o processo de evolução da ocupação e uso do solo urbano, especificado no parágrafo anterior, ocorreu na grande maioria das cidades brasileiras.

Segundo MACEDO (1995), parece então urgente uma revisão no ideário sobre espaços livres de edificação e ações são fundamentais:
- A afirmação e o aceite da existência formal de um sistema urbano de espaços livres de edificação, que deve abarcar todos os espaços livres existentes, sejam eles espaços para lazer, ou circulação, verdes ou azuis, plantados ou não.
- O abandono da idéia do “alcance” de medidas de metros quadrados por habitante como uma panacéia (incansável) aos problemas urbanos de carência de áreas de lazer e conservação de recursos ambientais, esquecendo-se definitivamente o malfadado índice de 12 m2/ habitante de área verde.
- O estabelecimento de critérios de distribuição de espaços livres públicos, que deve ser delimitado de acordo com carências sociais, acessibilidade e manutenção de recursos ambientais finitos, como água e florestas nativas e de proteção de solos frágeis.
- O estabelecimento prévio ao crescimento urbano, as expansões das cidades de áreas prioritárias à construção e/ou efetivação de espaços livres, isto é, a criação e manutenção de estoques/reservas de futuros espaços livres públicos para lazer e conservação.
- A revisão dos padrões de distribuição dos espaços livres intra-quadras, questionando-se os modelos oficiais, e seus graus de eficiência redefinindo-se os limites desejáveis (se desejáveis) de privatização do lazer.
- A idealização de quadras urbanas, especialmente aquelas verticalizadas, são sistemas complexos, onde flui a vida humana e cujos espaços livres devem ser tratados como sistemas que são, não como espaços residuais.
- A revisão dos padrões de projeto dos espaços livres, que são extremamente padronizados para o país, buscando-se adequar cada um deles ao contexto do território nacional em que estiver situado.
- O reconhecimento do papel da rua como espaço de lazer e uma conseqüente revisão de seus padrões de desenho e projeto.
- A inclusão das praias e áreas de beira-água (rios, lagos e represas) quando utilizados pela comunidade como participantes efetivos dos sistemas de espaços livres de edificação urbanos e/ou como áreas de reserva para lazer e ou conservação.

Áreas Verdes e Arborização Viária

Estudos sobre áreas verdes urbanas

Estudos recentes sobre espaços livres de edificação foram promovidos procurando-se avaliar o uso dessas áreas pela população, sua história, seus equipamentos, sua dinâmica, assim como seu alcance para atender a comunidade local e bairros próximos (MACEDO, 1995), (ANGELIS & ANGELIS NETO, 2000), (PEGOLO & DEMATTÊ, 2002) e (MACEDO & SAKATA, 2002).

Segundo ANGELIS & ANGELIS NETO (2001), deve-se ter uma visão macro da cidade de tal forma que o espaço livre, a ser planejado ou avaliado, esteja inserido nesse contexto, propiciando a continuidade de um sistema de espaços livres urbanos interligados – parques, praças, hortos, reservas florestais, fundos de vale, arborização de acompanhamento viário e outros. Não se pode analisar um desses fatores sem se considerar a existência dos demais e não cabe aqui determinar-se um número, uma vez que os índices são contraditórios e dificultam mais o trabalho que auxiliam.

Como exemplo, pode-se citar PEGOLO & DEMATTÊ (2002) que encontraram diferenças relevantes na situação das praças de Taquaritinga/SP e Jaboticabal/SP, cidades vizinhas, mas com grandes diferenças na maneira com que a população utiliza seus espaços livres ao longo da história. Como características comuns observou-se que as praças não são mais usufruídas como em tempos passados. Antigamente, eram o centro dos acontecimentos políticos e das festividades religiosas, de atos cívicos e sociais. Nos finais de semana, moradores das zonas urbana e rural dirigiam-se às praças, pois ali havia diversão, o lazer de outras épocas, os encontros, o início de muitas histórias e o fim de outras tantas.

Segundo ANGELIS & ANGELIS NETO (2000), com o surgimento de outras formas alternativas de lazer e novos locais para o estabelecimento do comércio, associado ao descaso persistente do poder público frente à manutenção das praças, essas passaram a constituir-se em um fragmento a mais dentro da malha urbana.

Com o tempo as mudanças vieram e as praças foram deixando de ser um espaço prioritário de recreação. Atualmente, a maioria das pessoas tem outras necessidades e sente o mundo ao seu redor de modo diferente. Isso não significa que os espaços verdes urbanos precisem cair no esquecimento, pois são ecologicamente importantes, possuem valores estéticos além de auxiliarem na redução da amplitude térmica e novos usos podem ser estendidos a eles, com equipamentos adequados. Instigando-se novas formas de percepção do ambiente urbano, seria possível ampliar as relações positivas da população com a paisagem. O apreço pelos espaços verdes poderia ser resgatado, mesmo que as pessoas não mais se utilizassem deles da forma como faziam antes. Dois pontos não devem ser esquecidos: a constante participação do Poder Público e a conscientização (PEGOLO & DEMATTÊ, 2002).

Torna-se imperativo repensar o papel que os espaços públicos têm nos dias de hoje. Nesse contexto toma vulto a questão do desenho urbano, não sendo mais possível planejar a cidade dissociada da questão social. E ao mencionar-se o desenho urbano, refere-se, inclusive, às minúcias dos diversos logradouros e, em se tratando das áreas livres de edificação verdes e praças isso significa o estudo de seu mobiliário, sua tipologia e sua inserção na malha urbana. O somatório desse conhecimento propicia um diagnóstico preciso sobre esses espaços, ao mesmo tempo em que fornece subsídio na busca de soluções para se fazer frente aos problemas sociais ocorrentes nesses logradouros e na cidade como um todo (ANGELIS & ANGELIS NETO, 2000).

Para MACEDO & SAKATA (2002), os parques urbanos brasileiros são figuras que acompanham a formação das cidades e as transformações da sociedade brasileira e suas formas de expressão. Ao longo dos séculos XIX e XX, os parques passaram de espaços onde a elite passeava vestida à européia contemplando a natureza recriada e confabulando com seus pares para espaços democráticos onde todos podem correr, brincar e divertir-se, onde os recursos naturais são preservados, onde as cidades brasileiras, cada vez mais densas, respiram aliviadas. Os parques do passado e os do presente são unidos por uma característica comum: sua importância como símbolos de nossa capacidade de criar, implantar e manter figuras urbanas tão valiosas e tão frágeis sob a ação do tempo.

Entre os parques urbanos mais emblemáticos pode-se destacar o Parque do Ibirapuera e o Parque do Aterro do Flamengo.

As inaugurações desses dois parques em 1954 (Ibirapuera) e 1962 (Flamengo), apesar do caráter isolado, marcam a ruptura definitiva com a estrutura do velho desenho romântico de paisagismo, ainda bastante em voga na época. O Aterro do Flamengo, projetado por Afonso Reidy, Burle Marx e equipe, possui desenho com inovações que buscam e conseguem dar uma adequação aos usos cotidianos da metrópole do Rio de Janeiro, então em processo de acelerada modificação urbana, foi planejado para conter e envolver a nova via expressa que ligava a zona sul (Copacabana, em especial) ao centro da cidade, o Aterro do Flamengo é um grande Parque linear unindo vários aterros antigos na orla, é uma obra que comporta toda uma série de jogos, museus, marina e até uma praia artificial, elementos que foram rapidamente assimilados pela população, utilizados noite e dia, Figura 01. O Parque do Ibirapuera, cujo desenho florestal urbano é de concepção de Otávio Augusto Teixeira Mendes, era uma área alagadiça, foi estruturado no meio de um bosque de eucaliptos, com uma série de pavilhões de exposição que, na época de sua inauguração, atraiam um grande público para as festividades em curso. Esse parque possuía um programa de uso que atendia ao lazer cultural (museus e exposições), esportivo (quadras, tanques para modelismo de barcos) e contemplativo, Figura 02 (MACEDO & SAKATA, 2002).


Figura 01. Marina localizada no Aterro do Flamengo, envolvida de espaços verdes. Crédito: QUAPÄ.

O Parque do Ibirapuera pela sua localização, ao lado de áreas habitadas pelas elites – os bairros Jardim América e Jardim Paulista -, o significado simbólico que lhe foi atribuído, sua centralidade e acesso transformaram-no em principal parque da cidade, capaz de atrair milhares de usuários todos os dias, tanto para caminhar e correr como para o descanso, os shows ao ar livre e as exposições (MACEDO E SAKATA, 2003).

A vegetação arbórea pode ser entendida como um mobiliário urbano, um equipamento essencial para o bom funcionamento dos espaços livres de edificação.

A tipologia é uma forma de analisar o espaço livre de edificação e pressupõe o conhecimento de sua identidade, estrutura e significação e a imaginabilidade definida como sendo a qualidade do objeto físico que lhe confere uma grande probabilidade de suscitar uma imagem vigorosa em qualquer observador, a estrutura é a conformadora da imagem através da relação espacial entre o espaço livre e seu entorno, integrando ambos em um conjunto único e, por fim, a significação que é um atributo de valor simbólico para o observador, transformando o espaço livre, o parque, a praça, a rua ou a árvore em um espaço reconhecível e representativo para os habitantes da cidade (ANGELIS & ANGELIS NETO, 2000).


Figura 02. Parque do Ibirapuera, foto aérea mostrando trecho do parque, áreas verdes livres
e prédios e entorno dominado por bairro de alto padrão, extraído de (PMSP, 2003)

Inventário da arborização viária

Muitas análises, da vegetação arbórea viária, em municípios foram efetuadas a partir de inventários por amostragem devido ao grande número de indivíduos arbóreos presentes, o tamanho das cidades e a necessidade de contenção de custos, como mostram os trabalhos de BIONDI (1985); MILANO (1985); GRAZIANO et al (1987); MILANO et al (1987); (MARTINS et al 1992); LIMA (1993); SANTOS (1997); (MICHI & COUTO, 1996) e (COSTA & HIGUCHI, 1999).

Para planejar a arborização de Penápolis, SP; PAIVA et al (1997) optaram por inventariar 895.000 m2 da área central da cidade.

Todos os trabalhos possuíam como variável principal a quantidade de árvores por distância de calçada, caracterizando a densidade da arborização nas vias públicas. Esta variável é essencial já que é a maior necessidade em se tratando de vias públicas, no atual contexto da arborização brasileira.

TAKAHASHI (1992) elaborou banco de dados para o cadastro total das árvores de Maringá/PR e salientou sua importância para o manejo da arborização urbana.

Através de um cadastro pode-se vislumbrar alternativas de manejo especificas, observando-se uma unidade de manejo semelhante ao talhão da silvicultura tradicional, esta unidade pode ser o bairro ou no caso de grandes avenidas, a própria avenida.

Técnicas de Avaliação de Áreas Florestais Urbanas

Sensoriamento remoto

Recentemente foram elaborados muitos trabalhos, principalmente norte-americanos, utilizando sensoriamento remoto e ou sistemas de informação geográfica para o inventário e manejo de áreas verdes. A grande vantagem dessas tecnologias é obter dados visuais e poder relacionar os mais variados dados espaciais, de diferentes gêneros, com dados alfanuméricos, obtendo respostas integradas para problemas urbanos e rurais, de maneira rápida e econômica, proporcionando uma experiência de conhecimento holístico sobre as áreas avaliadas, Figura 03.


Figura 03. Bairro Vila Resende , Piracicaba – SP, pode-se ver na imagem o espectro
infravermelho próximo destacando as áreas constituintes da floresta urbana.
Crédito: Laboratório de Métodos Quantitativos – LCF/ESALQ/USP.

A videografia aérea é uma técnica de sensoriamento remoto que vem sendo utilizada nos EUA para avaliação, detecção de problemas na agricultura, agricultura de precisão e no manejo de áreas naturais (POMPERMAYER NETO, 2002).

Para a Silvicultura Urbana esse sistema nunca foi utilizado no Brasil, constituindo-se um grande potencial de pesquisa na avaliação de florestas urbanas apresentando-se como alternativa econômica para avaliação de áreas extensas.

O mesmo autor apresentou revisão sobre videografia descrevendo o início dos primeiros testes nas décadas de sessenta e setenta e os principais avanços obtidos na década de oitenta com os primeiros estudos envolvendo câmeras de vídeo com sensibilidade para captar a faixa do espectro eletromagnético referente ao infravermelho próximo (0,7 até 1,1 nm).

Nos últimos anos segundo El Hakim, citado por POMPERMAYER NETO (2002), a utilização de sistemas de imagens de vídeo, ou videografia, para a avaliação dos recursos naturais tem aumentado devido ao desenvolvimento de novas tecnologias aplicadas às câmeras como o CCD (“Charge Coupled Device”) em substituição ao sistema de tubo, que proporciona, maior resolução espacial e compatibilidade com sistemas digitais.

WATZLAWICK et al (2001) apresentou metodologia para utilização de câmaras de vídeo em mapeamento florestal. O método consistiu da utilização de câmaras de vídeo convencionais e filtros espectrais (verde, vermelho e infravermelho próximo) como sensor não convencional. Como resultados, salientou a importância da obtenção das imagens quase que em tempo real, custos operacionais baixos, praticidade e operacionalidade do sistema bem como a agilidade de obtenção das imagens. Como aspectos negativos salientou a baixa resolução das câmaras e a sobreposição de filtros apresentando como solução a utilização de câmaras S-VHS e filtros espectrais dos mais diversos comprimentos de onda.

Sistemas de informação geográfica

Para MARTINS, (1994), segundo autores da área, o “Geoprocessamento pode ser definido como o conjunto de tecnologias de coleta e tratamento de informações espaciais e de desenvolvimento, e uso, de sistemas que as utilizam. As áreas que se servem das tecnologias de Geoprocessamento têm, em comum, o interesse por entes de expressão espacial, sua localização, ou distribuição espacial de seus atributos”.

Em URBAN FORESTRY DATABASE LIBRARY (2002) encontrou-se vinte e cinco trabalhos sobre geoprocessamento em Silvicultura Urbana, salientando a necessidade do uso ferramenta para o manejo e avaliação das áreas verdes e árvores urbanas.

Segundo GODFREY (2001), existem muitas vantagens em cadastrar os dados das árvores urbanas em banco de dados georreferenciados e poder consultá-los em programa de geoprocessamento, entre as muitas vantagens cita:
- o mapeamento das áreas e árvores permite consultas visuais rápidas;
- é mais fácil encontrar a localização de uma árvore quando ela está representada em um mapa para indicar sua localização;
- os dados da população arbórea podem ser consultados e representados no mapa e qualquer relacionamento entre árvores e outras informações podem ser consultados e visualizados ao mesmo tempo. Por exemplo, pode-se “perguntar”, por meio de uma consulta, quais as árvores apresentam podridão no tronco e estão localizadas em calçadas com menos de dois metros de largura e imediatamente o programa de geoprocessamento mostrará o resultado da consulta destacando, com uma cor, todos os pontos da cidade onde existe tal situação.

MARTINS (1994), FREIRE et al (1994), ADAM et al (2001) e CÂMARA & MONTEIRO (2000) descreveram a utilização da geoinformação para inventário de espécies arbóreas e outras finalidades ambientais para as cidades de Belo Horizonte/MG, Recife/PE, Florianópolis/SC e São Sebastião/SP, respectivamente, Figura 04.

ADAM et al (2001) ressaltam que o custo de implantação de um sistema de gerenciamento e controle informatizado é imensamente menor que o custo futuro de modificação dos espaços públicos devido à falta de planejamento. Entendeu-se também que mesmo realizando-se um grande trabalho de campo, com cadastro da vegetação das praças e áreas públicas e os resultados dispostos em tabelas em papel guardadas em arquivos de armário, estes resultados, em alguns anos estariam obsoletos e poucos saberiam como estão as espécies vegetais e o real estado de conservação das praças, pois a atualização e manipulação destes arquivos seria difícil e demorada, justificando a implantação da geoinformação.


Figura 04. Sistema de Informações Geográficas do Município
de São Sebastião, (CÂMARA & MONTEIRO, 2000).

MARTINS (1994) ressalta que o mapeamento digital de toda a área urbana de Belo Horizonte/MG foi implementada com base em fotografias aéreas, obtidas através de vôo programado. Essas informações foram separadas em diversos níveis (limites das regionais e bairros, logradouros, quadras, rede de água, esgoto, elétrica, curvas de nível, etc). Neste mapeamento foram localizadas todas as árvores dos logradouros públicos, assim como as áreas verdes, praças e parques. Assim para qualquer árvore do mapeamento poderá ser retornada a ficha contendo os dados do seu cadastro instantaneamente. Além disso, várias manipulações estarão disponíveis como o cruzamento dos mais variados tipos de dados (árvores e rede elétrica, rede de água e de esgoto, curvas de nível ou declividade, etc) a cada árvore mapeada será associado o cadastro feito e vice-versa.

Na Silvicultura Urbana existem trabalhos de levantamento utilizando sensoriamento remoto e sistemas de informação geográfica para o inventário de áreas verdes públicas e particulares, arborização viária e diagnósticos de ilhas de calor em áreas densamente ocupadas como demonstram os trabalhos de (MILLER, 1997), (GODFREY, 2001), (SACAMANO et al 1995) e (LO et al 1997). Esse último fez vôos noturnos para caracterizar as ilhas de calor na cidade de Huntsville no estado do Alabama, Estados Unidos, utilizando imagens de infravermelho térmico de alta definição.

Considerações Finais

Segundo SANTOS (1996), a valorização das árvores urbanas será tanto maior quanto mais reconhecida sua importância enfatizando que o desafio futuro de quem trabalha com árvores de cidades reside na busca constante do conhecimento que leve a compreensão de todas as implicações relativas à presença da árvore no ecossistema urbano e em como avaliar seus benefícios tangíveis intangíveis.

Esses aspectos transformam a profissão do Engenheiro Florestal, trazendo oportunidades multidisciplinares novas em campo profissional ainda pouco explorado. Pode-se imaginar que, em futuro próximo, as administrações públicas municipais poderão possuir, dentro de seu corpo técnico, silvicultores urbanos especializados na gestão ambiental urbana, utilizando como instrumento uma percepção holística do desenho florestal urbano que poderá surgir desde a compreensão do sentimento pela paisagem, a topofilia, até a pratica na utilização de sistemas de informação espaciais e sensoriamento remoto para avaliar e planejar o uso do ecossistema florestal urbano.

Bibliografia

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quinta-feira, 9 de julho de 2009

Emergentes e G8 chegam a acordo sobre metas climáticas e liberalização da economia

09/07/2009 - 19h12


Do UOL Notícias*

Em São Paulo

Líderes do G8 e do G5 entraram em acordo e estabeleceram metas climáticas e o prazo para concluir as negociações sobre a liberalização do comércio mundial até 2010. Pelo acordo, realizado no segundo dia do encontro de cúpula em L'Áquila, na Itália, os países terão que reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa em 80% até 2050 e, nesta mesma data, limitar o aquecimento global em até 2ºC acima dos níveis pré-industriais.

Índia e China, que integram o G5 ao lado de Brasil, México e África do Sul, resistiam em aceitar as propostas, mas cederam. Indonésia, Coreia do Sul, Austrália e Egito, que se associou ao G5, deram aval ao acordo, que deve orientar a conferência internacional do clima, marcada para o final do ano em Copenhague, na Dinamarca.

Os países, no entanto, não citaram medidas concretas para que as metas sejam alcançadas, nem anunciaram qualquer tipo de ajuda econômica para que países em desenvolvimento consigam alcançar os objetivos. Também não foram estabelecidos metas à curto prazo.

Com relação à liberalização da economia, os líderes do G8 e G5 comprometeram-se a resistir ao protecionismo e a definir até 2010 as negociações da Rodada de Doha, cujo propósito é eliminar direitos aduaneiros e reduzir os subsídios agrícolas nos países ricos.

Os países não chegaram a uma decisão sobre fixar prazos para que o Irã interrompa seu programa nuclear. Uma posição sobre esse assunto só será tomada na próxima Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro.

*Com informações dos jornais Deutsche Welle (Alemanha) e The Wall Street Journal (EUA)

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Trabalho técnico clássico: On the definition of ecological species groups in tropical rain forests


Caros,

este trabalho foi publicado em 1988, por Whitmore. Um conceito muito importante é consolidado: a distinção entre espécies de árvores de floresta tropical pioneiras e não-pioneiras, fundamental para quem lida com recuperação florestal. Apesar de ser em inglês, é pequeno e didático. Aproveitem este clássico.

Baixe o artigo aqui.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Prefeitura do Rio cria normas de uso e ocupação do solo na comunidade Santa Marta

DECRETO Nº 30870 DE 3 DE JULHO 2009.


REGULAMENTA A LEI N.º 3135, DE 05 DE DEZEMBRO DE 2000, ESTABELECENDO AS NORMAS DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO DA COMUNIDADE DE SANTA MARTA, EM BOTAFOGO.


O PREFEITO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, no uso de suas atribuições legais e,


CONSIDERANDO que a comunidade de Santa Marta foi declarada como área de especial interesse social pela Lei 3135 de 05 de dezembro de 2000;

CONSIDERANDO que a comunidade de Santa Marta está sendo urbanizada pelo poder público, através do Programa de Aceleração do Crescimento - PAC;


DECRETA

Art. 1.º O uso e ocupação do solo da área de especial interesse social - AEIS da comunidade de Santa Marta, declarada pela Lei n.º 3135, de 05 de dezembro de 2000, obedecerão às normas estabelecidas neste Decreto, consoante o parágrafo único do art. 2.º da Lei 3135 de 05 de dezembro de 2000.


Art. 2.º São partes integrantes deste Decreto os seguintes anexos:

I – Anexo I – Delimitação da área de especial interesse social.

II – Anexo II – Localização e número de pavimentos das edificações existentes.

III – Anexo III – Delimitação de subzonas e número máximo de pavimentos por subzona.

IV – Anexo IV – Áreas impróprias para ocupação.


V – Anexo V – Delimitação das áreas públicas e privadas.


VI – Anexo VI - Formulário para autorização de obras e concessão de habite-se.

Art. 3.º São permitidos todos os usos e atividades complementares ao uso residencial, não poluentes e que não causem incômodo à vizinhança e que não impliquem a comercialização (compra e venda) e armazenagem de:





I – Ferro velho;





II – Produtos inflamáveis (exceto tintas e vernizes) e explosivos;





III – Gás liqüefeito de petróleo;





VI – Armas e munições.





VI. Parágrafo único. As atividades que estejam submetidas às normas e regulamentos específicos para fins de licenciamento e alvará deverão ser aprovadas pelos órgãos competentes.





Art. 4.º O número máximo de pavimentos, de qualquer natureza, das novas edificações ou acréscimo das existentes obedecerá ao definido no Anexo III do presente decreto.





§ 1.º Fica proibida a construção de novas edificações, exceto as de iniciativa e responsabilidade do poder público e aquelas destinadas ao reassentamento de população situada em áreas de risco e de preservação ambiental e em áreas objeto de projeto de urbanização da comunidade.





§ 2.º No caso das edificações de iniciativa do poder público, assim como aquelas destinadas ao reassentamento de população situada em áreas de risco e de preservação ambiental e em áreas objeto de projeto de urbanização da comunidade, as edificações poderão ter até 4 pavimentos de qualquer natureza.





Art. 5.º As edificações deverão apresentar condições suficientes de higiene, segurança e habitabilidade, e respeitar o alinhamento definido pelo Anexo V deste Decreto.





Art. 6.º Ficam consideradas regularizadas todas as edificações existentes constantes do Anexo II deste Decreto para fins de concessão de habite-se e inscrição imobiliária.





Parágrafo único. Ficam excetuadas as edificações que tiverem mais de três pavimentos.





Art. 7.º A autorização de obras e o habite-se das edificações serão concedidos mediante solicitação em formulário específico, constante do Anexo II deste Decreto.





Art. 8.º Nas áreas da Rua Jupira e Marechal Francisco Moura que estejam fora dos limites da área de especial interesse social, as condições de uso e ocupação do solo deverão obedecer as disposições das legislações existentes para estes locais.





Art. 9.º Deverão ser implementadas pelos Órgãos competentes campanhas elucidativas junto à população residente, a fim de esclarecer os parâmetros urbanísticos aos quais as edificações estarão submetidas para o licenciamento e regularização de obras novas.





Art. 10. Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.





Rio de Janeiro, 3 de julho de 2009 – 444º ano da fundação da Cidade





EDUARDO PAES

sábado, 4 de julho de 2009

Apenas para registro: Programa Produtor de Água é lançado no Rio de Janeiro


14/05/2009

Foi lançado no último dia 11/5, o programa Produtores de Água e Floresta, no município de Rio Claro, no Rio de Janeiro, com o objetivo de remunerar produtores rurais pela restauração florestal e manutenção de florestas “em pé” de suas propriedades. Pela primeira vez acontecendo no estado do Rio de Janeiro, o programa é uma iniciativa da The Nature Conservancy (TNC), Instituto Terra de Preservação Ambiental, Secretaria de Meio Ambiente doRJ, Instituto Estadual do Meio Ambiente do RJ, Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Guandu e Prefeitura Municipal de Rio Claro. O evento de lançamento acontece no Colégio Estadual Presidente Benes, em Lídice - Rio Claro, e conta com a presença do governador Sérgio Cabral e do ministro do Meio Ambiente Carlos Minc, além de outras autoridades estaduais e municipais.

O programa Produtores de Água e Floresta consiste no pagamento pelos serviços ambientais – no caso proteção e produção de recursos hídricos – providos pelos proprietários rurais da região, que passam a ser denominados Produtores de Água e Floresta. Parte dos recursos para o pagamento é proveniente dos grandes usuários de água da Bacia Hidrográfica do rio Guandu, coletado pelo Comitê da bacia. Durante o evento será efetuado o pagamento aos 18 primeiros proprietários rurais que já aderiram ao projeto.

A área piloto do programa tem aproximadamente 5 mil hectares e está localizada na micro-bacia do rio das Pedras, situada no alto da Bacia do Guandu, no município de Rio Claro, onde nasce o rio Piraí - considerado o mais importante rio do sistema Guandu. A Bacia do Guandu, que também recebe água transposta do rio Paraíba do Sul, é responsável por cerca de 80% do abastecimento de água e 25% da geração de energia elétrica para a região metropolitana da cidade do Rio de Janeiro, beneficiando aproximadamente 7 milhões de pessoas. A expectativa dos parceiros do projeto é iniciar os estudos para ampliação do Programa para mais duas microbacias até o final do ano.

O valor a ser pago pode chegar até R$ 60,00 por hectare/ano, a depender das particularidades de cada propriedade. Esse valor foi calculado de acordo com o custo de oportunidade local, localização e qualidade das florestas conservadas, atingindo valores equivalentes à receita líquida que os produtores rurais teriam se utilizassem a terra para outros usos, como a pecuária de corte ou leiteira. Em alguns casos, os proprietários poderão receber até R$ 6.000,00 pela área total inserida no projeto.

De acordo com o diretor executivo do Instituto Terra, Maurício Ruiz, “trata-se de uma iniciativa que atua no cerne da crise ambiental: o desequilíbrio entre ecologia e economia. Pela primeira vez, a sociedade moderna busca formas de valorizar o cuidado com a natureza, dando oportunidade às comunidades que só viam no extrativismo, no uso intensivo do solo ou nas cidades uma chance de desenvolvimento. Por meio de um sistema contínuo, cria-se agora uma espécie de cadeia produtiva com menos externalidades e uma nova atividade econômica, a dos produtores/conservadores de água e floresta”.

Os critérios utilizados para a escolha dos proprietários participantes foram: intenção de conservação ou restauração, quantidade de áreas prioritárias para a produção de água dentro da propriedade, estado de conservação de suas florestas e estar na área de abrangência do projeto, ou seja, na microbacia do rio das Pedras, inserida dentro da bacia do rio Piraí - Lídice - Rio Claro.

“Para nós da TNC, poder participar de uma iniciativa como esta é muito importante, não somente porque estamos falando da proteção aos mananciais da cidade do Rio de Janeiro, mas também porque estamos claramente assistindo a um processo de replicagem das experiências que já ocorrem no Sistema Cantareira, em São Paulo, sinalizando para uma nova tendência de conservação e restauração dos ecossistemas florestais, a qual contempla o reconhecimento econômico destes ecossistemas para o bem estar das populações urbanas”, complementaFernando Veiga, Coordenador de Serviços Ambientais da TNC.

A região do projeto se encontra dentro do chamado ‘Corredor de Biodiversidade Tinguá-Bocaina’. Esse corredor conecta os maciços florestais representados, de um lado, pela Reserva Biológica do Tinguá, na região central fluminense, e de outro, o Parque Estadual da Serra da Bocaina, no litoral sul. Sua área total soma 195.000 hectares de florestas no estado do Rio de Janeiro. O Ministério do Meio Ambiente e a UNESCO reconheceram esse corredor como sendo um das áreas prioritárias mais importantes para a conservação da biodiversidade na Mata Atlântica. A região Corredor Tinguá-Bocaina é considerada também o ponto mais crítico de fragmentação do cordão da Serra do Mar, que é a maior extensão contígua de Mata Atlântica ainda existente, se estendendo do Paraná até o Rio de Janeiro. Vários animais ameaçados de extinção habitam o local, como a suçuarana, a jaguatirica, o sagüi-de-serra-escuro e outros.

É dentro dos limites deste Corredor que correm os rios que formam o sistema Guandu, que por sua vez abastece toda a região metropolitana do Rio de Janeiro. A estratégia é fomentar diversas tecnologias de conservação, restauração florestal e uso sustentável que permitam esta reconexão tão importante para a biodiversidade e para o abastecimento da população. Os “Corredores de Biodiversidade” são mosaicos de diferentes usos do solo interligados por grandes blocos de florestas, contínuos ou não, que cobrem milhares de hectares, em paisagens entremeadas por áreas de usos humanos, como agricultura, cidades e rodovias, e grandes áreas verdes. Da perspectiva da biodiversidade, os corredores são regiões críticas para a conservação, pois visam conectar fragmentos florestais, garantindo assim as interações ecológicas e a troca genética entre as espécies. Populações de grandes mamíferos, como a onça pintada (Panthera onca), por exemplo, precisam de no mínimo 20 mil hectares de floresta tropical para que sejam mantidas a saúde e a estabilidade da espécie.

Fonte: Luiz Soares / LEAD Comunicação


Do Portal Celulose Online: José Batuíra de Assis - As abobrinhas do padre


30/06/2009 - O estigma de vilão vivido pelo eucalipto e os preconceitos contra essa árvore, às vezes, beiram as raias do absurdo. Não se tem a noção exata de como e onde eles se iniciaram, nem se explica como se alastraram feito uma praga. O fato é que estão cristalizados no imaginário popular, gerando fábulas e fantasias que se transformam em episódios como o que relatamos abaixo, onde o preconceito se mistura perigosamente a dogmas religiosos, induzindo os incautos à satanização do eucalipto.

O Calendário do Dízimo de 2004, da Paróquia Bom Pastor, Bairro Dom Cabral, em Belo Horizonte, foi montado com a contribuição de vários católicos do Brasil inteiro, que desfilaram belíssimos conceitos e expressaram sua convicção de que o dízimo, mais do que uma doação é uma partilha. E mais, deixaram claro que essa partilha é uma profissão de fé em Deus, nos Sacramentos e no amor ao próximo.

O amor e a fé são fundamentos espirituais característicos a todos os homens de bem, independente de sua cultura, crença ou religião. Nesse contexto os Sacramentos, assumidos e sempre presentes nas cerimônias religiosas e nas convicções dos católicos, são dogmas irretocáveis e constituem os pilares da Igreja Católica Apostólica Romana.

Talvez por ser fevereiro um mês atípico, a folha-calendário do dízimo, relativa a esse mês, traz uma contribuição, no mínimo bissexta, do padre Marino Van de Ven, da paróquia Santa Rita de Cássia, de Miradouro, cidade da Zona da Mata de Minas Gerais, que destoa inteiramente do conteúdo espiritualmente elevado das outras mensagens e nos convida a uma reflexão profunda sobre as fronteiras entre dogmas e preconceitos. O texto, denominado Eucaliptos e Abobreiras, diz o seguinte:

“Numa comunidade, uns são Eucaliptos; outros, Abobreiras.
O eucalipto sobe muito, muito alto, aparece demais.
Mas não oferece fruto algum. Gasta muita seiva só para
manter toda aquela pose e seca o terreno ao redor.

Na abobreira, ao contrário, não há aparências a manter.
Então, toda seiva vira fruto. Debaixo dela, o terreno é fértil: ela acaba devolvendo à terra muito mais do que dela retira.

Na sua comunidade, você é Eucalipto ou abobreira?
Descubra pelos frutos.
Pense nisso, quando chegar o momento de
ofertar o Dízimo”

Quisesse o Pároco, na sua parábola, exortar os fiéis a praticar a humildade, indicando que o caminho é ser rasteiro como a cucurbitácea abóbora e não elevado como a mirtácea eucalipto, ambas famílias do reino vegetal de Deus, até dá para entender.

Esqueceu-se, entretanto, o Reverendíssimo Padre, de que a obra do Criador é perfeita e que, como a própria Igreja proclama, Ele fez o homem à sua imagem e semelhança. Ora, como ficaria a pregação, se o ente ereto, alto e cheio de pose fosse Adão (imagem e semelhança de Deus) e o rasteiro fosse a serpente que seduziu Eva, ofereceu-lhe o fruto proibido e expulsou o casal do Paraíso?

Quando fala do eucalipto, dos frutos da abobreira e da relação de cada planta com o solo, as afirmações do padre descambam para o desconhecimento e desinformação, de forma descompromissada com a realidade. Os conhecedores do assunto sabem que a abóbora é rica em proteínas e por isso retira, com seu fruto, muitos nutrientes do solo. Esses nutrientes, no eucalipto, localizam-se mais nas folhas e nos ramos finos e, ao contrário do que o padre afirma, em grande parte ficam no terreno após a colheita. No tronco colhido predominam o carbono retirado do ar e o hidrogênio. Ambos são apartados do oxigênio, que é generosamente emitido para a atmosfera, purificando o ar que respiramos.

“Quem não sabe o que procura, não reconhece o que encontra”.

A enciclopédia Delta Larousse assim descreve o eucalipto: “Árvore da família das mirtáceas, adaptada aos solos mais diversos, em latitudes e altitudes opostas e de valor incomparável pela rapidez do crescimento, qualidade da madeira e facilidade de aclimação”.

Se o eucalipto secasse o solo, como disse o Padre, seria uma árvore suicida, pois como toda planta, ele necessita de água para sobreviver. O eucalipto cresce muito, sim, e no seu processo de crescimento retira o nocivo gás carbônico do ar, oferecendo em troca o saudável oxigênio, além de boa madeira para produzir o conforto e o bem-estar do homem. Substitui as árvores nativas nos fogões a lenha, nas serrarias, nas siderúrgicas, nas fábricas de celulose; e os combustíveis fósseis petróleo e carvão mineral na produção de energia, preservando os ecossistemas naturais e contribuindo para melhorar o clima do planeta.

Um poeta escreveu: “...mas o amor de que falo é outro e cá comigo matuto: É fácil negar a árvore, quando não se conhece o fruto”.

O fruto, às vezes, é uma fruta, como no caso da abóbora. Mas também pode ser o resultado de um trabalho, um bem ou um serviço. Os frutos do eucalipto estão no dia-a-dia de todos nós – no ferro do fogão a gás ou na lenha, nas panelas de barro ou de ferro, na mesa de madeira, aço ou nos tecidos de Tencel; nos talheres de aço, no guardanapo, nos alimentos embutidos (lingüiça, salsichas e outros), nos sorvetes e no filtro coador de café. Estão no papel higiênico e na pasta de dentes. Estão, humildemente, na moldura interna dos sofás da sala e na estrutura dos telhados. Estão em materiais de limpeza e em medicamentos. Estão na geração do chip do computador e do telefone celular, assim como da fibra ótica que interliga os telefones fixos. E nos acompanham no ferro e aço dos automóveis e outros meios de transporte.

Nada contra o Jerimum nordestino, o Mogango Sul Mineiro, a Menina Brasileira, a Italianinha ou, até mesmo, a híbrida japonesa Tetsukabuto. Todas são excelentes abóboras e importantes componentes do cardápio brasileiro. Mas abobrinhas, esconjuro!

Colunista: José Batuíra
Descrição: Engenheiro Florestal