sexta-feira, 8 de novembro de 2019

FLORESTAS SECUNDÁRIAS - PARTE II: FLORÍSTICA

Pixirica-vermelha (Miconia prasina, Melastomataceae). espécie de início de sucessão. Inhoaíba, 2012. Autor: Claudio Santana

As florestas secundárias possuem características florísticas particulares, e distintas das florestas em estágios mais avançados da sucessão. Ocorre o predomínio de espécies generalistas e típicas do início da sucessão, observando-se mudanças na composição das famílias e mesmo mudança nos hábitos, como pode ser conferido em IBGE (2012). A sucessão secundária incia-se com pteridófitas e gramíneas,  Fabaceae reptantes, Verbenaceae e Lamiaceae anuais, Portulacaceae e outras plantas rústicas. Seguem  Poaceae do gênero Paspalum; Solanaceae do gênero Solanum; e Asteraceae dos gêneros Mikania, Vernonia e Vernonanthura; além de muitas outras. Inicia-se o surgimento de plantas lenhosas dominadas por Asteraceae do gênero Baccharis e Melastomataceae dos gêneros Leandra, Miconia e Tibouchina, este último dominante na maioria das comunidades Submontanas das serras costeiras. 

Com o tempo, as plantas dos primeiros estágios vão cedendo lugar a Vochysia nas comunidades Alto-Montanas e os gêneros Cariniana, Virola, Xylopia e muitas outras na comunidade Montana. Nas encostas da Serra do Mar e ramificações da Serra Geral, no Estado de Santa Catarina, as espécies que dominam são Miconia cinnamomifolia (DC) Naudin, Hieronyma alchorneoides Allemão, Xylopia brasiliensis Spreng., Nectandra lanceolata, Ness, entremeadas por densos agrupamentos de Esuterpe edulis Mart. Em fase mais evoluída da floresta secundária, começam a aparecer Ocotea catharinensis Mez e Aspidosperma pyricollum Müll. Arg., caso exista germoplasma nas proximidades. É o que se chama popularmente “capoeirão”, segundo Veloso (1945) (IBGE, 2012).

Tabarelli e Mantovani (1999) afirmam que, diferentemente de outras florestas tropicais, a Mata Atlântica das encostas tem seus estágios iniciais dominados por espécies anemocóricas. No entanto, ao longo do tempo, ocorre a entrada de espécies zoocóricas, dispersas principalmente por pássaros generalistas consumidores de sementes pequenas; estas espécies vegetais pertencem principalmente às famílias Myrtaceae, Melastomataceae, Rubiaceae, Monimiaceae, Flacourtiaceae, Myrsinaceae, Araliaceae, Olacaceae e palmeiras do gênero Geonoma.

Liebsch, Marques e Goldemberg (2008), comparando 16 áreas de Mata Atlântica no sudeste brasileiro, mostram que as florestas mais jovens são dominadas por espécies de ampla dispersão, comuns a outras tipologias vegetais, como Hyeronima alchorneoides, Alchornea triplinervia e Guapira opposita. O avanço da idade leva a um aumento na proporção das espécies exclusivas da Mata Atântica.

Oliveira (2002), em estudo realizado na Ilha Grande (RJ), mostra que a riqueza de espécies aumenta ao longo da sucessão, em idades que variam dos 5 anos (26 espécies) até a fase climáxica (134 espécies). No entanto, uma área de 50 anos possuiu riqueza inferior a outra de 25 anos, o que pode decorrer da substituição de espécies, flutuações populacionais e perturbações que são parte do processo sucessional.  A espécie Lamanonia ternata. ocorreu em todas as fases estudadas. Nas áreas de ocorrência nas áreas de 5 anos, 25 anos e 50 anos ocorreram Tabernaeontana laeta, Ilex integerrima, Casearia sylvestris, Miconia cinnamomifolia e Cabralea cangerana. Hieronyma alchorneoides foi a única espécie deste estrudo que ocorreu simultaneamente nas áreas de 25 anos, 50 anos e climáxica.


Em Nova Friburgo, Fraga et al. (2015) estudaram duas áreas, de 20 e 50 anos, e encontrou epécies em comum entre ambas: Alchornea triplinervia (Spreng.) Müll.Arg, Casearia lasiophylla Eichler, Caseria sylvestris Sw., Dalbergia brasiliensis Vogel, Myrcia splendens (Sw.) DC., Myrsine umbellata Mart., Psidium rufum Mart. ex DC., Psychotria vellosiana Benth., Roupala brasiliensis Klotzsch e Tibouchina granulosa (Desr.) Cogn.. Em ambas áreas, mais de 70% das espécies pertencem a grupos de pioneiras e secundárias iniciais. Esta proporção é muito alta para floretas desta idade, o que pode indicar fatores externos interferindo no avanço da sucessão, como uso pretérito, distúrbios naturais e mesmo ação antrópica, o que pode ser causado pelo fato de serem fragmentos pequenos isolados em uma matriz agrícola.

Na mesma cidade de Nova Friburgo, Freitas e Magalhães (2013) estudaram aspecto estruturais e florísticos de parcelas com 1, 5, 7, 15, 35 e 70 anos. Foi encontrado um total de 87 espécies no estudo. Os autores encontraram forte similaridade entre as parcelas do início da sucessão, existindo maiores diferenças em relação ao estado intermediário e avançado. A floresta de 70 anos alcançou um alto índice de Diversidade, similar a formações maduras da região.

Santana, Freitas e Magalhães (2015), em estudo sobre a similaridade de florestas secundárias no Grande Rio, encontraram em áreas entre 7 e 35 anos de abandono, espécies como Piptadenia gonoacantha, Guarea guidonea, Sparattosperma leucanthum Cecropia glaziouii ocorrendo com maior frequência. A riqueza variou de 7 a 35 espécies, e a diversidade ficou entre 0,85 e 2,634 nats/indivíduo. Os autores observaram forte influência da idade na riqueza e diversidade, embora o uso anterior influencie a composição de espécies.

A predominância de pioneiras e secundárias iniciais nestas florestas é característica marcante de estágios iniciais (Budowski, 1966; Finegan, 1996), onde um pequeno grupo responde pela concentração de atributos estruturais da floresta, com a presença de poucas famílias (Corlett, 1995). Esta característica tende a se diluir com o tempo, com o ingresso de espécies de grupos mais avançados e com diferentes histórias de vida (Cheung et al., 2010; Siminski et al., 2011).

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

FLORESTAS SECUNDÁRIAS - PARTE I: DEFINIÇÕES E CARACTERÍSTICAS

Espécie da família Melastomataceae, comum em início de sucessão. Santana, 2009.

Florestas primitivas são manejadas e suprimidas desde os primórdios da civilização humana para diversos fins. Naturalmente, muito do território tomado à custa da supressão florestal se destina a outros usos, como ocupação urbana, agropecuária, exploração mineral. No entanto, parte desta área torna a desenvolver cobertura florestal, que, apesar de não guardar as mesmas características da vegetação original, podem cumprir diversas funções e fornecer benefícios ao ser humano. Estas são as Florestas Secundárias, que, segundo Brown e Lugo (1990), são aquelas criadas após intervenção humana. 

Estima-se que mais de 50% das florestas do mundo sejam secundárias (FRA, 2010). Chazdon (2012) afirma, em extensa revisão sobre o assunto, que as florestas tropicais levam de 100 a 200 anos para recuperar suas características originais, o que, no entanto, poderá ser afetado por novas ações humanas neste decorrer.

Estima-se que a cidade do Rio de Janeiro possui quase 30% de seu território com cobertura florestal. Deste total, 21% são florestas secundárias em diferentes estágios de sucessão (PCRJ, 2015).



Florestas secundárias na cidade do Rio de Janeiro. Acima: Serra de Inhoaíba. Abaixo: Serra de Paciência. Santana, 2012.

A despeito de aumentos episódicos do desmatamento, observa-se ao longo do tempo uma redução das taxas de perda de florestas e  regeneração de florestas secundárias (Chazdon, 2012). Rezende et al (2015) mostram o aumento de mais de 3.000 hectares na cobertura florestal da cidade de Trajano de Moraes (RJ), devido ao esvaziamento da população das áreas rurais e redução das áreas cultivadas. 

Quando comparadas a florestas climácicas, as florestas secundárias possuem menor área basal, distribuição de diâmetros menos variável, ausência de clareiras, lianas lenhosas ausentes e poucas árvores grandes (Finegan, 1996; Guariguata e Ostertag, 2001). Siminski et al (2011) mostra que, em Mata Atlântica, indicadores como riqueza de espécies e diversidade tendem a aumentar com o tempo de sucessão. 

Diversos mecanismos podem interferir nas características das florestas secundárias. Oliveira (2015), discutindo a dimensão humana sobre a sucessão secundária, mostra que o tipo de atividade desenvolvida no território antes da retomada da sucessão é decisiva para formatar a estrutura da floresta por muitos anos, deixando uma assinatura perceptível. O mesmo autor (2002) mostra, em estudo na Ilha Grande, que em florestas resultantes do abandono da agricultura a rebrota de tocos é o primeiro mecanismo de regeneração a atuar no processo de recomposição da biomassa. Essa rebrota é caracterizada pela presença de troncos bifurcados ou multifurcados.

A atividade de remoção de espécies para energia também altera as características da sucessão; áreas exploradas no maciço da Pedra Branca para a produção de carvão tiveram sua diversidade sensivelmente alterada, embora recuperassem sua biomassa e outras funcionalidades de forma eficiente. Uma característica dessas áreas é a predominância de Guarea guidonea, espécie favorecida pela abertura de clareiras e por eventual oferta de água e nutrientes (Oliveira, 2015; Solórzano, Oliveira e Guedes-Bruni, 2005).

Estudos desenvolvidos na Amazônia desde a década de 1980 mostram que o uso anterior da terra condiciona a composição inicial das florestas secundárias. Uhl, Bushbacher e Serrão (1988) mostram que usos mais intensivos, com uso de máquinas e queima, reduzem o banco de sementes e os tocos no solo, retardando a sucessão e favorecendo a dispersão abiótica. Já usos mais leves tendiam a apresentar maior proporção de espécies de dispersão biótica. Em Mata Atlântica, Silva-Matos, Fonseca e Silva-Lima (2005) observaram padrão semelhante em Silva Jardim (RJ), no qual Cecropia domina em áreas sob incêndios frequentes, se mantendo por sua capacidade de rebrota, enquanto Trema se apresenta em áreas sem fogo, sendo uma espécie necessariamente dispersa por sementes.

Norden et al  (2009) mostra que, com o tempo, as florestas secundárias podem alcançar a convergência com a vegetação primeva, atendendo a três premissas locais: alta abundância de espécies generalistas na flora regional, anto nível de dispersão de sementes e a presença de remanescentes de florestas maduras.

Diamond (1975) estabeleceu o conceito das regras de montagem das comunidades, afirmando que a ordem de chegada das espécies do pool regional poderia influenciar a trajetória sucessional. De certa forma, atualizou um conceito anterior, o da Initial Floristic Composition (IFC), de Egler (1956). Sobre o assunto, leia também o artigo de Menezes (2016).

Uma característica das florestas secundárias na região de Mata Atlântica é a presença de grandes exemplares de figueiras (Ficus spp.), poupadas dos ciclos de corte e de produção ao longo do tempo por sua ligação a tradições religiosas cristãs e de matriz africana. Desta forma, acabam por funcionar como espécies-chaves (de acordo com o conceito de Mills, Soulé e Doaks, 1993), atraindo e sustentando a fauna dispersora de sementes, transformando um tabu em elemento de sobrevivência (Oliveira, 2015).


Norden (2015) e Rodrigues (2013) concluem que os processos estocáticos e determinísticos coexistem nas florestas secundárias, sendo mais ou menos proeminentes de acordo com a fase de desenvolvimento - início de sucessão é mais previsível do que o resultado final - e também conforme tamanho e complexidade do remanescente - florestas menores e menos complexas são de maior previsibilidade do que florestas mais extensas e complexas.

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

ÁRVORE DA SEMANA - PAU-BRASIL

Plantae →Superrosiidae→ Rosiidae→ Fabales→ Fabaceae→ Paubrasilia echinata (Lam.) Gagnon, H.C.Lima & G.P. Lewis







Fotos: Claudio Santana, 2019.

O pau-Brasil é considerado a árvore nacional, através da Lei Federal n° 6.607, de 7 de dezembro de 1978. O nome popular da espécie possui diversas versões, embora o mais aceito seja que brasil pode fazer alusão ao vermelho de seu cerne. Os portugueses já denominavam dessa forma, antes do achamento do Brasil, uma outra espécie, a Caesalpinia sappan, espécie aparentada ocorrente no subcontinente indiano.

Os indígenas da nação Tupi a chamavam ybirá-pitanga, o que significa madeira vermelha, ou casca vermelha.

Sendo o primeiro produto de exploração e exportação da então colônia, é retratado em alguns dos primeiros mapas da costa brasileira. Em 1511, a nau Bretoa, que zarpa de Cabo Frio com cinco mil toras do pau de tinta, é registrado em diário que mostra a abundância da espécie e o quanto este ciclo econômico se mostraria destrutivo para nossa flora litorânea.

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Brasileiro não é nome de povo, e sim de profissão; brasileiros, afinal, eram os que negociavam pau-Brasil junto aos nativos e o revendiam ao mercado europeu.

Originalmente seu nome científico era Caesalpinia echinata. O gênero homenageava o botânico italiano Andrea Caesalpino, que antes de Lineu havia publicado um importante tratado botânico que inspirou o sueco em seu Systema Naturae. Já o termo echinata faz alusão aos espinhos abundantes que a espécie apresenta em sua fase juvenil, ou ainda, em suas partes novas.

Atualmente, após revisão taxonômica publicada em 2016, é chamado Paubrasilia echinata, sendo a única espécie de seu gênero.

Do pau-Brasil se extraía um corante vermelho de grande apreciação pela nobreza europeia renascentista, a brasileína. Este corante caiu em desuso quando do surgimento dos corantes sintéticos

Portugueses e franceses disputaram o litoral brasileiro nos primórdios da colonização do país, tendo o pau-Brasil como um dos motivos de fundação da colônia da França Antártica.


Na cidade do Rio de Janeiro, a região hoje conhecida como praia de Inhaúma, no sopé do Morro do Timbau, servia como local de estocagem de pau-Brasil recolhido das aldeias ao redor, antes de seu embarque para a Europa.

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Para mais informação, recomendo as publicações "O Rio Antes do Rio", magnífica obra sobre o Rio de Janeiro à época de sua fundação. 

E recomendo a obra "Árvores Brasileiras - Volume 1", para informação botânica.


domingo, 25 de agosto de 2019

ARTIGO: ESTRUTURA VERTICAL DO COMPONENTE ARBÓREO EM FASE DE REGENERAÇÃO DE UM TRECHO DE FLORESTA DECIDUAL, SC

Artigo bom da lavra do Laboratório de Manejo de Paisagens da UFRJ. A estrutura vertical é muitas vezes negligenciada nos estudos de vegetação.

Acesse aqui.

Luehea divaricata, Malvaceae. fonte: https://sites.unicentro.br/wp/manejoflorestal/8841-2/

sábado, 24 de agosto de 2019

Cobertura vegetal na cidade do Rio de Janeiro

Caros,

a plataforma Data.Rio detém um robusto banco de informações sobre a Cidade Maravilhosa. Separei aqui a parte que trata sobre a Cobertura Vegetal e uso da Terra, atualização 2016. Mas buscando na plataforma é possível buscar dados até de 1984.

Acesse os dados aqui.