sábado, 16 de novembro de 2019

FLORESTAS SECUNDÁRIAS - PARTE III: POTENCIAL


Anadenanthera peregrina, angico-vermelho. Maciço da Tijuca, 2012. Foto: Claudio Santana.

As florestas secundárias não possuem as mesmas características das florestas preservadas (Norden et al, 2009), já que resultam dos processos de reconstrução de ecossistemas eliminados ou profundamente alterados. No entanto, são capazes de retomar processos ecológicos antes de recomporem completamente suas características estruturais e florísticas. E estas funcionalidades geralmente resultam em bens e serviços para a sociedade.

Brancalion et al (2012) discutem estratégias para a a conservação das florestas secundárias em paisagens alteradas, o que é a realidade especialmente na Mata Atlântica. Sugerem o manejo adaptativo, a exploração de produtos não-madeireiros, o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), estabelecimento de mecanismos legais de proteção e adoção de sistemas de manejo integrado floresta-agricultura pecuária.

Fearnside (2013) fala em serviços ambientais cumpridos por florestas secundárias amazônicas, focando na reciclagem de água e na captura e estoque de carbono. 

Pesquisas da Universidade Federal de Viçosa  (Franco, Carvalho, 2014) demonstraram o potencial do pau-jacaré (Piptadenia gonoacantha, Fabaceae) como antibacteriano, sendo eficaz no combate a infecções urinárias, com 80% mais eficácia que os antibióticos tradicionalmente utilizados. Outra utilização do pau-jacaré, espécie típica de florestas secundárias, é para lenha e carvão, sendo considerado por EMBRAPA como uma das melhores espécies nativas para este uso.

Schwartz (2007) cita diversas espécies de uso madeireiro presentes em florestas secundárias amazônicas. Fantini e Siminski (2017) falam em espécies valiosas em florestas secundárias na Mata Atlântica, como  jacatirão-açu, licurana, cedro, e canela-amarela, atingindo densidades de até 300 indivíduos por hectare. Fantini, Siminski e Gaio (2016) citam estoques de até 60 m³/ha de madeira em pequenas propriedades de Santa Catarina, o que pode gerar renda adicional aos produtores.

Embora um recente trabalho realizado com dados globais de vários pontos dos trópicos (Rozendaal, et al, 2019) afirme que funções como a fertilidade não são restituídas nas florestas secundárias, os próprios autores admitem que a escala pode ter interferido neste resultado.

Siminski e Fantini (2007) afirmam que, respeitado o tempo adequado de pousio, capoeiras derrubadas para a agricultura podem regenerar e restituir níveis satisfatórios de fertilidade que sustentem um novo ciclo agrícola.  Brienza Júnior (2012) propõe sistema de manejo na forma de enriquecimento de capoeiras com leguminosas, a fim de reduzir o tempo de pousio e acelerar a recuperação da fertilidade do solo. 


Sobre absorção de carbono atmosférico, Chazdon et al (2016), através da modelagem de dados de 1.148 florestas secundárias ou em regeneração em 43 regiões da América Latina, do sul do México ao Chile, incluindo Flórida e Caribe, mostram um potencial de absorção onze vezes maior do que o de florestas primárias. As florestas secundárias poderiam absorver as emissões de 1993 a 2014.

Cordeiro, Schwartz e Barros (2017) mostram que florestas secundárias possuem potencial como vegetação matricial para enriquecimento com espécies comerciais na Amazônia. Sansevero, Pires e Pezzopani (2006) mostram esse potencial para a Mata Atlântica, com finalidade conservacionista. Mattei e Rosenthal (2004) citaram sucesso no enriquecimento por semeadura direta com Peltophorum dubium, outra secundária típica, em florestas em regeneração, criando um ambiente propício para futura exploração ou conversão em sistemas agroflorestais e silvopastoris.

A coleta de sementes de espécies nativas (Valor, 2017) também se mostra promissora como fonte de renda, considerando ser parte essencial na cadeia de valor da restauração florestal. Florestas secundárias fazem parte desse contexto.













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