terça-feira, 31 de março de 2020

ÁRVORE DA SEMANA - COCÃO











Plantae → Rosidae → Malpighiales → Erythroxylaceae→ Erythroxylum deciduum

 A. St.-Hill.


A árvore da semana é uma discreta representante de formações secundárias em quase todo o Brasil extra-Amazônico. Sua família possui quatro gêneros, dos quais Erythroxylum representa 258 de 267 espécies da família.

O gênero Erythroxylum abriga entre suas espécies E. coca, do qual se extrai a mal afamada cocaína. E suas folhas, atualmente descocainizadas, são utilizadas como aromatizante do icônico refrigerante Coca-Cola. Aliás, os Estados Unidos são os maiores compradores legais de folhas de coca, planta que representa fonte de divisas para a Bolívia e faz parte da cultura andina.

Estudos atestam potencial antioxidante da espécie E. deciduum; porém, como todo remédio em quantidade não prescrita, também tem registro de toxicidade em ovinos. 

A espécie tem grande interação com a fauna; suas flores são visitadas e polinizadas por abelhas e outros insetos, e seus frutos são adequados para consumo por pequenos pássaros. Pequenos macacos também os consomem; um dos nomes da espécie é saguimba, que em tupi-guarani significa "comida de saguí". Por essa razão, deve ser utilizada em programas de restauração florestal.

As fotos foram tomadas em 12 de dezembro de 2019, No Campo de Santana, centro da cidade do Rio de Janeiro. O mapa de ocorrência da espécie é um instantâneo tomado na página da espécie na plataforma REFLORA.

Bibliografia consultada:

LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. 2. Ed.  Nova Odessa, SP: editora Plantarum, 1998. 352 p.

http://www.colecionandofrutas.com.br/erythroxylumdecidu.htm

http://www.theplantlist.org/1.1/browse/A/Erythroxylaceae/

http://reflora.jbrj.gov.br/reflora/listaBrasil/FichaPublicaTaxonUC/FichaPublicaTaxonUC.do?id=FB7698

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2503200108.htm

https://sites.unicentro.br/wp/manejoflorestal/8496-2/

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-736X2004000300009



quarta-feira, 25 de março de 2020

COMO IDENTIFICAR ESPÉCIES? PARTE I - ORGANIZAÇÃO GERAL DA COLETA, REGISTRO E IDENTIFICAÇÃO PRELIMINAR


Esenbeckia grandiflora Mart., Rutaceae. Guaxupita. Coletada em 2017 no bairro de Laranjeiras.


A identificação botânica é necessária em diversos aspectos do nosso dia-a-dia. Pesquisa básica, licenciamento ambiental, medicina popular: a lista de aplicações é extensa. Saber o nome de uma espécie é o primeiro passo para conhecer e explorar seus usos e potenciais. Mas como proceder para uma identificação o mais fiel possível?

PRIMEIRO PASSO: SAIBA COM O QUE ESTÁ LIDANDO.

Procure saber o bioma em que estão situadas sua espécies. Qual sua de ocorrência. Qual o ambiente preferencial. São raras? Ameaçadas? Endêmicas?

No caso de levantamentos amplos, em locais determinados, estas informações devem preceder o início das atividades de campo. Recolher previamente todas as informações sobre o recorte espacial poupa tempo, recursos e paciência.

E sabendo de antemão a área do levantamento de flora, procure saber se já existem outros estudos em escala local ou regional. Teses, dissertações, artigos, floras, flórulas, chaves...todo o material possível deve ser compilado. além disso, os materiais de referência em fitossociologia, dendrologia e sistemática devem ser consultados, assim como os cada vez mais populares guias de campo.

Busque imagens, senão de todas as espécies, tarefa quase impossível, ao menos das mais importantes, devidamente identificadas em levantamentos florísticos e fitossociológicos. As espécies mais abundantes, as de mais ampla distribuição, as de maior Valor de Importância fitossociológico. Você com certeza irá se deparar com elas em algum momento do se trabalho.

Busque suas imagens em fontes seguras. O site do jardim Botânico dá acesso a várias plataformas, como REFLORA e JABOT. É possível fazer buscas por estado, bioma, local de coleta. O JABOT possui imagens de herbário, como esta aqui, da Fabaceae Dalbergia nigra, o lendário jacarandá-da-Bahia, coletada em Silva Jardim/RJ.

SEGUNDO PASSO: COLETE DIREITO!

No mundo real nem sempre é assim, mas no mundo ideal a coleta botânica um levantamento florístico o fitossociológico deve cobrir ao menos um ano inteiro. A ideia é cobrir o período de floração de todas as espécies ao longo de um ano. Melhor ainda se puder ultrapassar este período; nem todas as espécies de floresta tropical florescem anualmente. Diversas climácicas têm floração com intervalos de mais de dois anos.

Independente da coleta de estruturas reprodutivas, é fundamental registrar todas as informações vegetativas. Folhas inteiras ou compostas, alternas ou opostas (ainda há as verticiladas), odores, exsudações, cor das exsudações, látex, resinas, ritidomas, padrões de distribuição das folhas...todo e qualquer caracter deve ser anotado. 

Colete uma quantidade de amostras suficientes para a eventual necessidade de envio a diferentes herbários. E tire fotos, muitas fotos, de tudo. Hoje com recursos digitais há maior possibilidade de obtenção de imagens em quantidade e qualidade. mas tente estabelecer uma organização dos dados, a fim de facilitar o acesso posterior ao que foi registrado. E faça imagens com melhor qualidade possível, inclusive com detalhes em macro. 

Herborize corretamente suas amostras. Falar sobre técnicas de herborização não é o foco dessa postagem, e irei abordar esse assunto em outra publicação. Mas cabe dizer que devem ser usados instrumento corretos para coleta, como tesouras de coleta e podões; devem ser coletadas estruturas íntegras e com caracteres morfológicos que facilitem a identificação; os registros fotográficos devem ser feitos com o material ainda fresco; e a secagem deve ser feita rapidamente, a fim de evitar fungos e outros agentes decompositores. Um bom manual de herborização é este aqui, da EMBRAPA.

E tombe suas amostras em um herbário registrado. É muito bom ter um nome de coletor e um número de coleta no seu nome.

TERCEIRO PASSO: USE A INFORMAÇÃO A SEU FAVOR.

Naturalmente, uma triagem prévia deverá ser feita. que espécies consigo identificar de imediato? Em quais chego ao menos até o nível de família? Feita esta organização, deve-se utilizar chaves analíticas para identificar as espécies. Buscar apoio nos já mencionados guias de campo, especialmente se forem referentes á flora do local estudado.

O caminho tradicional é levar as amostras a herbário para comparação. Como já falado anteriormente, hoje há herbários em versão eletrônica online, que permitem a consulta a imagens de alta qualidade. Alguns sites são especializados, como a base ILDIS, exclusiva para leguminosas.

Faça contato com os especialistas nas famílias que conseguir identificar, e com os generalistas também. Você pode conseguir boas informações para seu trabalho, e de quebra ampliar a base de dados de um pesquisador. Todos ganham. E é nesse momento que aquelas imagens de boa qualidade em macro que você tirou no campo podem fazer a diferença para ajudar o especialista.

Existem fóruns em redes sociais, como o Identificação Botânica e o DetWeb, do Facebook que podem ajudar a dirimir dúvidas; muito destes espaços contam com pesquisadores e especialistas. Procure seguir as regras dos grupos, a fim de conseguir rapidez e qualidade na sua identificação. E lembre-se: os fóruns são um apoio, não a principal fonte de informação.

E não esqueça: deposite e tombe suas amostras em herbário registrado. Reitero que é muito bom ter um nome de coletor e um número de coleta no seu nome.

segunda-feira, 23 de março de 2020

ÁRVORE DA SEMANA - CRINDIÚVA








Plantae → Rosidae→ Rosales → Cannabaceae→ Trema micrantha

 (L.) Blume

A árvore dessa semana também poderia ser dita arvoreta da semana. A crindiúva, ou curindiba, ou pau-pólvora, ou candiúba, ou periquiteira, ou orindeúva...a quantidade de nomes vulgares é indicativa de sua dispersão em todo o território nacional, e muito além dele: a espécie está presente em toda a América Tropical.

Espécie pioneira de vida curta mas intensa, amplamente dispersa por aves generalistas, atraídas por seus frutinhos vermelhos. Um quilo de sementes tem até 135 mil unidades. Devido a seu eficiente transporte aéreo, é uma das primeiras a chegar em clareiras e mesmo terrenos abandonados, inclusive em áreas urbanizadas. 

Há registro de alcançar porte de 6 metros em 14 meses. 

É considerada espécie multipropósito, pois se presta a recuperação de áreas degradadas, melhoramento de solos, sustento da avifauna, forragem para gado (o excesso pode causar intoxicação em equinos), uso medicinal como antiinlamatório e tratamento de feridas. É uma nativa de uso potencial em sistemas agroflorestais.

A celulose extraída a partir de 4 anos de plantio é equivalente à de Eucalyptus saligna, ou superior.Fornece ótima lenha e carvão, utilizado em fabrico de pólvora, daí seu nome pau-pólvora.

As fotos foram tomadas em junho de 2019, na Escola Técnica Estadual Adolpho Bloch, no Maracanã (primeira imagem) e no início de março de 2020, antes da quarentena, no bairro de Bonsucesso.

Fontes: 

CARVALHO, P.E.R. Espécies Arbóreas Brasileiras. Coleção Espécies Arbóreas Brasileiras, vol. 1. Brasília: Embrapa Informações Tecnológica; Colombo, PR: Embrapa Florestas, 2003. 1.039 p.

LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa: Instituto Plantarum de Estudos da Flora, 1992. v. 1, 368 p.

SANCHOTENE, M. do C. C. Frutíferas nativas utéis a fauna na arborização urbana. Porto Alegre: SAGRA, 1989 304 p.





segunda-feira, 16 de março de 2020

ÁRVORE DA SEMANA - PAINEIRA-ROSA














Plantae → Rosidae→ Malvales → Malvaceae→ Ceiba speciosa (A. St.-Hil.) Ravenna

A árvore desta semana é muito conhecida dos cariocas, em particular: a paineira-rosa. É comum nesta cidade a ponto de um ponto bastante visitado do Parque Nacional da Tijuca, conhecido por suas cachoeiras, ser denominado de Paineiras.

O nome paineira vem da paina, palavra originada do malaio paññí, uma fibra leve e macia que preenche o interior de seus frutos e serve como meio de dispersão de suas pequenas sementes. 

Seu nome científico é Ceiba speciosa, sendo Ceiba derivado de uma palavra do taino, língua indígena da região do caribe, que significa canoa, dada a leveza e flutuabilidade de sua madeira. E speciosa é palavra latina que significa vistosa, o que é explicado pela imponência da árvore e pela beleza de suas flores.

É polinizada principalmente por borboletas (índrome de polinização denominada psicofilia), embora morcegos e beija-flores também a visitem. A dispersão, como já citado, é anemocórica, ou seja, ação dos ventos (ánemos é o deus do vento, o próprio vento, em grego). A floração acontece de dezembro a maio, e a frutificação em setembro. Estes dados são referentes ao Rio de Janeiro; outros estados têm períodos diferentes.

Seu potencial paisagístico a torna uma das espécies mais utilizadas em arborização urbana, assim como sua interação com a fauna de polinizadores a torna indispensável na restauração florestal. O uso econômico é limitado, pela baixa qualidade de sua madeira. No entanto, sua paina tem bom valor comercial, já tendo sido exportada, pois se presta a isolamento acústico e preenchimento de coletes salva-vidas, casacos e travesseiros.

As foto foram tomadas em um humilde celular, no mês de março de 2020 no entorno da prefeitura do Rio de Janeiro, à exceção da primeira foto, um espetacular espécime existente no Campo de Santana, fotografado em meados de 2019, á frente de uma soberba figueira indiana provavelmente Ficus microcarpa).

Fontes:



domingo, 8 de março de 2020

ÁRVORE DA SEMANA - ARAÇÁ-AMARELO











Plantae → Rosidae→ Myrtales → MyrtaceaePsidium cattleyanum Sabine

Das muitas espécies denominadas araçás, do gênero Psidium, uma das mais comuns é o Psidium cattleyanum, ou araçá-amarelo, ou apenas araçá. A espécie se distribui principalmente em Mata Atlântica, em estados litorâneos, com interiorização para Cerrado e Caatinga. Está presente em áreas abertas e estágios iniciais de sucessão, sendo inclusive considerada indicadora por legislação específica.

Araçá em tupi-guarani significa "fruto que tem olhos", pois as sépalas que permanecem no fruto dão a aparência de um olho. As fotos desta postagens são auto-explicativas.

Fora de sua área de ocorrência natural, é considerada uma espécie de grande potencial invasivo. Produz frutos muito atrativos à fauna, grande quantidade de sementes viáveis, rebrota a partir de tocos e raízes, e pode formar estandes puros. É considerada invasora especialmente em ecossistemas insulares na Ásia e na Oceania.

Tem potencial para formar cortinas vegetais em sistemas agroflorestais, uso medicinal como antidiarreico, uso na alimentação e para recomposição de áreas degradadas.

Por seu pequeno porte (até 6 metros de altura), se mostra uma espécie potencial para utilização em arborização sob redes de distribuição de baixa tensão. Este é exatamente o uso mostrado nas fotos desta postagem, tomadas no bairro de Olaria entre os meses de janeiro e março de 2020.

Fontes: 





segunda-feira, 2 de março de 2020

ÁRVORE DA SEMANA - AROEIRINHA










Plantae → Rosiidae→ Sapindales → Anacardiaceae → Schinus terebinthifolia Raddi


A árvore desta semana é comum, de ampla dispersão, de pequeno porte e muito presente na rotina do brasileiro. Está presente especialmente, nos estados litorâneos, desde a região Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Sergipe), Sudeste (Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo), Sul (Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina), e interiorizando-se para a região Centro-Oeste (Mato Grosso do Sul).

A aroeirinha, aroeira-vermelha, aroeira-pimenteira, é comum em áreas de baixada, margens de rios, áreas úmidas e restingas. Espécie pioneira e de rápido crescimento, é amplamente dispersa por sua alta atratividade para pequenas aves.


Sendo uma típica espécie tutora da regeneração natural de florestas, se presta de forma esplêndida para atividades de recomposição da flora nativa, especialmente por sua precocidade na produção de frutos; sua frutificação dura praticamente metade do ano. 


Por suas características de ampla produção de furtos, atratividade à avifauna, alta germinação e formação de populações puras, é considerada invasora fora de seu ambiente natural. No estado da Flórida, nos Estados Unidos, é considerada a principal espécie invasora, causando reações alérgicas na população.


São muitos os usos dados à aroeirinha. Além das atividades de restauração florestal, é usada como espécie ornamental. Seus frutos são usados como tempero, muito apreciado em preparações sofisticadas. 


O uso medicinal é amplo, sendo muito conhecida como cicatrizante e antiinflamatória. Também funciona como tripanocida, larvicida contra 
Aedes aegypti e inseticida. Tem efeito antibacteriano e regenerador de tecidos. Está na Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS - RENISUS.

As fotografias desta postagem foram tomadas nos bairros de Ramos e Olaria, entre 26/02/2020 e 01/03/2020, e registram indivíduos de arborização urbana e quintais.

Fontes: