Esenbeckia grandiflora Mart., Rutaceae. Guaxupita. Coletada em 2017 no bairro de Laranjeiras.
A identificação botânica é necessária em diversos aspectos do nosso dia-a-dia. Pesquisa básica, licenciamento ambiental, medicina popular: a lista de aplicações é extensa. Saber o nome de uma espécie é o primeiro passo para conhecer e explorar seus usos e potenciais. Mas como proceder para uma identificação o mais fiel possível?
PRIMEIRO PASSO: SAIBA COM O QUE ESTÁ LIDANDO.
Procure saber o bioma em que estão situadas sua espécies. Qual sua de ocorrência. Qual o ambiente preferencial. São raras? Ameaçadas? Endêmicas?
No caso de levantamentos amplos, em locais determinados, estas informações devem preceder o início das atividades de campo. Recolher previamente todas as informações sobre o recorte espacial poupa tempo, recursos e paciência.
E sabendo de antemão a área do levantamento de flora, procure saber se já existem outros estudos em escala local ou regional. Teses, dissertações, artigos, floras, flórulas, chaves...todo o material possível deve ser compilado. além disso, os materiais de referência em fitossociologia, dendrologia e sistemática devem ser consultados, assim como os cada vez mais populares guias de campo.
Busque imagens, senão de todas as espécies, tarefa quase impossível, ao menos das mais importantes, devidamente identificadas em levantamentos florísticos e fitossociológicos. As espécies mais abundantes, as de mais ampla distribuição, as de maior Valor de Importância fitossociológico. Você com certeza irá se deparar com elas em algum momento do se trabalho.
Busque suas imagens em fontes seguras. O site do jardim Botânico dá acesso a várias plataformas, como
REFLORA e
JABOT. É possível fazer buscas por estado, bioma, local de coleta. O JABOT possui imagens de herbário, como
esta aqui, da Fabaceae
Dalbergia nigra, o lendário jacarandá-da-Bahia, coletada em Silva Jardim/RJ.
SEGUNDO PASSO: COLETE DIREITO!
No mundo real nem sempre é assim, mas no mundo ideal a coleta botânica um levantamento florístico o fitossociológico deve cobrir ao menos um ano inteiro. A ideia é cobrir o período de floração de todas as espécies ao longo de um ano. Melhor ainda se puder ultrapassar este período; nem todas as espécies de floresta tropical florescem anualmente. Diversas climácicas têm floração com intervalos de mais de dois anos.
Independente da coleta de estruturas reprodutivas, é fundamental registrar todas as informações vegetativas. Folhas inteiras ou compostas, alternas ou opostas (ainda há as verticiladas), odores, exsudações, cor das exsudações, látex, resinas, ritidomas, padrões de distribuição das folhas...todo e qualquer caracter deve ser anotado.
Colete uma quantidade de amostras suficientes para a eventual necessidade de envio a diferentes herbários. E tire fotos, muitas fotos, de tudo. Hoje com recursos digitais há maior possibilidade de obtenção de imagens em quantidade e qualidade. mas tente estabelecer uma organização dos dados, a fim de facilitar o acesso posterior ao que foi registrado. E faça imagens com melhor qualidade possível, inclusive com detalhes em macro.
Herborize corretamente suas amostras. Falar sobre técnicas de herborização não é o foco dessa postagem, e irei abordar esse assunto em outra publicação. Mas cabe dizer que devem ser usados instrumento corretos para coleta, como tesouras de coleta e podões; devem ser coletadas estruturas íntegras e com caracteres morfológicos que facilitem a identificação; os registros fotográficos devem ser feitos com o material ainda fresco; e a secagem deve ser feita rapidamente, a fim de evitar fungos e outros agentes decompositores.
Um bom manual de herborização é este aqui, da EMBRAPA.
E tombe suas amostras em um herbário registrado. É muito bom ter um nome de coletor e um número de coleta no seu nome.
TERCEIRO PASSO: USE A INFORMAÇÃO A SEU FAVOR.
Naturalmente, uma triagem prévia deverá ser feita. que espécies consigo identificar de imediato? Em quais chego ao menos até o nível de família? Feita esta organização, deve-se utilizar chaves analíticas para identificar as espécies. Buscar apoio nos já mencionados guias de campo, especialmente se forem referentes á flora do local estudado.
O caminho tradicional é levar as amostras a herbário para comparação. Como já falado anteriormente, hoje há herbários em versão eletrônica
online, que permitem a consulta a imagens de alta qualidade. Alguns sites são especializados, como a base
ILDIS, exclusiva para leguminosas.
Faça contato com os especialistas nas famílias que conseguir identificar, e com os generalistas também. Você pode conseguir boas informações para seu trabalho, e de quebra ampliar a base de dados de um pesquisador. Todos ganham. E é nesse momento que aquelas imagens de boa qualidade em macro que você tirou no campo podem fazer a diferença para ajudar o especialista.
Existem fóruns em redes sociais, como o
Identificação Botânica e o
DetWeb, do Facebook que podem ajudar a dirimir dúvidas; muito destes espaços contam com pesquisadores e especialistas. Procure seguir as regras dos grupos, a fim de conseguir rapidez e qualidade na sua identificação. E lembre-se: os fóruns são um apoio, não a principal fonte de informação.
E não esqueça: deposite e tombe suas amostras em herbário registrado. Reitero que é muito bom ter um nome de coletor e um número de coleta no seu nome.